Se você tiver a curiosidade de pesquisar o bairro "Usina" no CEP - "Código de endereçamento postal" - certamente não vai encontrar. Assim como também não vai mais encontrar "Muda", "Aldeia Campista", "Fátima", "Engenho Velho" etc. "Usina" e "Muda", por exemplo, passaram a ser "Tijuca", assim como "Fátima" passou a ser "Centro". Eram apêndices que foram incorporados pelos bairros maiores à sua volta.
Mas porque será alguns desses nomes de bairros continuam aparecendo nas placas de destino dos ônibus da cidade do Rio de Janeiro?
Simplesmente por que ainda é assim que a população, não só do bairro em si, mas como o carioca de uma maneira geral, apegado ao seu bairro e seus costumes, maneiras, tradições e conseqüentemente aos nomes mais conhecidos desde antigamente, recusa-se a chamá-lo de maneira diferente. Um bairrismo saudável, vamos dizer assim.
Moro na usina desde 1970. O bairro é uma espécie de cidade do interior. Como toda província ou aldeia que se preze tem uma estrada que o corta no meio, a Av. Édson Passos, que cruza o bairro bem no Largo S. Camilo de Lélis, mais conhecido, é claro, como Largo da Usina, além de outras peculiaridades, como comércio escasso, moradores antigos, ruas adjacentes pouco movimentadas, ladeirinhas sem saída e uma característica única, pelo menos que eu saiba, é o último lugar que ainda tem um ponto de táxi somente com os jurássicos fuscas.
O pessoal da antiga que, por sua vez, também escutou a história da geração anterior e assim por diante, conta que onde hoje é o terminal rodoviário "da Usina" (evidentemente) havia uma "Usina termoelétrica" (o mais correto seria estação termoelétrica) para geração de energia elétrica para os antigos bondes, que antes eram movidos por tração animal.
Cabe aí outra recordação, ou mito.
Não sei se é verdade ou folclore, mas contam que o local conhecido como "Muda" é justamente o local onde se fazia a troca dos animais para enfrentar o aclive que viria mais à frente, para chegar ao Alto da Boa Vista . Daí os nomes "Usina" e "Muda".
Outra saudosa lembrança é o Bar das Pombas, ou o que restou dele, num prédio histórico datado de 1880, hoje parcialmente em ruínas, mas ainda vivo na memória da antiga boemia.
Comentário do leitor Fernando Firme:
A porta à esquerda do antigo bar é a loja onde funcionava a Panificadora Flor da Tijuca nos anos 40/50. Me lembro do padeiro "Seu Manoel", com o cesto na cabeça, passando em frente ao muro do prédio, de onde nós pegávamos cocadas pretas e mandávamos cobrar em casa. Entre os ambulantes de antigamente, existiam também o peixeiro, o verdureiro e o garrafeiro, tão tradicionais quanto o amolador de facas. Sem falar no caminhão que vendia laranjas, com o vendedor cantando com um megafone de lata :
"Ô, meu irmão!
chega aqui no caminhão,
pra comprar laranja lima,
tangerina e limão!"
Folclores a parte, a Usina fica entre a Muda e o Alto da Boa Vista, a 100 metros de altitude, propiciando uma atmosfera mais agradável nos dias de calor, favorecida pela proximidade das matas do Parque Nacional da Tijuca.
A Usina tem problemas como qualquer outro bairro, nessa cidade muitas vezes conturbada, mas não deixa de representar, ainda, uma espécie refúgio a apenas 15 minutos da Praça Saens Peña e a 15 minutos da Barra da Tijuca.
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