Lá do alto, Nossa Senhora abençoa seus romeiros. O bairro da Penha usou essa benção para expressar, como poucos, as virtudes suburbanas contidas na fé e na festa.
Pela longa escadaria - que dizem ter 365 degraus - a devoção subia, subia, escalavrando joelhos, pagando promessas, resgatando pecados, salvando almas. Lá embaixo, a festa coloria a praça com suas barraquinhas; a música enchia de alegria os corações e envolvia os corpos na malemolência da dança.
Sempre foi bonito subir ao adro da igreja no meio da tarde. Olhar de cima o bairro calmo. Ouvir ao longe os latidos de vira-latas, mesclados ao apito do Curtume Carioca, que chamava à obrigação do trabalho.
Tinha o bonde. Ah, o bonde, expressão bonita de transporte encarnada em trilhos, balaústres, motorneiros e cobradores portugueses bigodudos, rápidos e gentis, inacreditavelmente equilibrados nos estribos com o bonde na velocidade máxima, uma “vertiginosa” corrida tão lerda se comparada à dos bólidos de hoje.
Penha das peladas na “Boiada”, vastíssimo espaço resgatado a um matadouro pelos meninos craques, os pelés e garrinchas jamais descobertos pelo olheiro um tanto zarolha, chamado Destino, nesses campos de várzea de nossa terra.
“Por isso, agora, lá na Penha vou mandar, minha morena pra sambar…”. Estes versos de Noel imortalizaram o bairro da Penha e sua festa famosa, onde por décadas e décadas pontificaram os maiores sambistas do Rio.
Por onde andará essa morena, linda, faceira, sestrosa que encantou tantos corações? Por onde andarão o bonde, as peladas, o apito da fábrica e aquele irresistível pôr de sol? Terão ficado no passado ou estão para sempre em nossos corações meninos?
A Penha continua aí. E lá no alto, fortalecida pela fé e embalada pelo samba que é devoção, Nossa Senhora da Penha vela por todos nós.
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