Alma Carioca

Bossa Nova e suas hist�rias

Por S�stenes Pernambuco Pires Barros

O que � 'Bossa'? Por que 'Bossa Nova'? Onde, quando e como tudo come�ou?

A palavra 'bossa' era um termo da g�ria carioca que, no fim dos anos cinq�enta , significava 'jeito', 'maneira', 'modo'. Quando algu�m fazia algo de modo diferente, original, de maneira f�cil e simples, dizia-se que esse algu�m tinha 'bossa'. Se o Ricardo desenhava bem, dizia-se que tinha 'bossa de arquiteto'. Se o Paulo escrevia, redigia bem, tinha 'bossa de jornalista'. E a express�o 'Bossa Nova' surgiu em oposi��o a tudo o que um grupo de jovens achava superado, velho, arcaico, antigo. Sim, mas o qu� era julgado superado e velho, na m�sica popular brasileira? 'Tudo', dizia a mocidade bronzeada de Copacabana.

A tristeza e melancolia das letras, a repeti��o dos ritmos 'abolerados' e dos 'sambas-can��o'; era tudo a mesma coisa, n�o obstante os grandes cantores da �poca: Nelson Gon�alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo. Lindas valsas e serestas? Sim, e da�? Da� � que algo tinha de ser feito.

Diferentes harmonias, poesias mais simples, novos ritmos. - Ritmo � batida, como do rel�gio, do pulso, do cora��o- E Bossa Nova � batida diferente do viol�o, poesia diferente das letras, cantores diferentes dos mestres. A Bossa Nova n�o seria melhor nem pior. Seria completamente diferente de tudo, mais intimista, mais refinada, mais alegre, otimista. Diferente. N�o come�ou especificamente num lugar, numa rua, num evento, num Festival. A rigor, ela n�o � nem um g�nero musical. � o tratamento que se d� a uma m�sica, em termos de 'batida' e de ritmo.

O primeiro grande marco inicial da Bossa Nova aconteceu em primeiro de mar�o de 1958,quando Jo�o Gilberto cantou, com a batida de viol�o diferente, 'Chega de Saudade', posteriormente gravada por Eliseth Cardoso, no disco 'Can��o do amor demais'. Em 1956, ningu�m falava em Bossa Nova, mas o apartamento onde morava Nara Le�o, no Edif�cio Pal�cio Champs Elys�e, em frente ao Posto 4, j� era ponto de reuni�o dos rapazes bronzeados de Copacabana: Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli e outros. N�o se compunham m�sicas ali. Ouviam-se. E trocavam id�ias.

S� no ano seguinte, em 1957, Jo�o Gilberto chegou ao Rio e, certa noite, foi � casa de Roberto Menescal, na Galeria do mesmo nome, em Copacabana. E aconteceu o grande encontro: O ritmo encontrou a m�sica e a poesia.

O GRANDE ENCONTRO: JO�O GILBERTO E ROBERTO MENESCAL
UM DESLUMBRAMENTO - OS PRIM�RDIOS DA BOSSA NOVA


- Tem um viol�o a�? Eu sou o Jo�o Gilberto. Pod�amos tocar alguma coisa.

Menescal, surpreso com "aquela figura esquisita", mandou-o entrar.

J� ouvira falar num "baiano meio louco, genial, afinad�ssimo," que �s vezes aparecia no Plaza, na Rua Princesa Isabel, por volta de 1957.

Carlos Lyra j� conhecia "aquela figura".

Mas voltemos ao apartamento do Menescal.

Casa cheia. Menescal levou o baiano para o quarto dos fundos. Curioso. Viol�o examinado e devidamente afinado, Jo�o come�ou a cantar "H��ba-la-la", de sua autoria. Uma esp�cie de beguine � musica caribenha j� esquecida. Menescal n�o entendeu nada da letra. Mas quem se importava com letra? A voz do "cara" era um instrumento! Um trombone da melhor qualidade. E Jo�o Gilberto n�o parecia cantar. Dizia as letras, num sussurro, mal abrindo os l�bios. E repetiu o estranh�ssimo "Ho-ba-la-la" cinco ou seis vezes, cada uma de maneira diferente, mas com a mesma batida. A mesma bossa. Quase ningu�m conhecia Jo�o Gilberto, no Rio, em 1957, principalmente os mais jovens. Quem ele era, o que fazia, como aprendera viol�o, como cantar daquele jeito diferente. Sabia-se, vagamente, que viera da Bahia pra cantar num conjunto, mas n�o se adaptara. E cantava esporadicamente, na noite do Rio. Fascinado, Menescal resolveu "mostrar sua descoberta" aos amigos.

E saiu com o baiano a tiracolo.

Com viol�o e tudo.

Come�ou pelo apartamento de Ronaldo B�scoli, na rua Otaviano Hudson, onde Jo�o Gilberto cantou "Ho-ba-la-la" muitas vezes.

E cantou outra can��o muito estranha, chamada "Bim-Bom".

M�sica noite a dentro - Como dormir?
A "pr�-Bossa Nova" de Dick Farney


O mestre Jo�o Gilberto abriu os ouvidos de Menescal e B�scoli para uma m�sica que at� ent�o desconheciam. O dia amanhecia quando chegaram os tr�s ao apartamento da Nara Le�o, onde "o show" foi repetido mais uma vez.

E o grupo partiu para a Urca, onde morava Ana Lu. Fascinado, Roberto Menescal queria aprender aquela "batida" diferente e n�o tirava os olhos das m�os de Jo�o Gilberto. E era professor de viol�o, como o Carlos Lyra. E a voz? O baiano explicou como conseguia soltar "um monte" de frases num �nico f�lego. "Reza a lenda" que Jo�o Gilberto admirava muito a respira��o de Dick Farney, que j� cantava uma esp�cie de "pr�-bossa nova". E, mesmo fumando dois ma�os de cigarros por dia, tinha uma t�cnica muito especial, em termos de respira��o. Sinatra, claro, era o guru maior. Ensinou ao mestre que ensinou ao professor. Talvez Jo�o Gilberto nem soubesse que Sinatra era mestre em respira��o. Seus mestres eram mesmo os yogues indianos. O baiano era muito estranho!

Com o nome de Farn�sio Dutra cantor algum conseguiria ser conhecido, mesmo com o enorme charme que encantava as meninas, � �poca da Segunda Guerra Mundial.

Assim, um rapaz de 24 anos tornou-se Dick Farney - charme, voz, eleg�ncia, bom gosto "pra dar vender", como se dizia. Esbanjava talento no Cassino da Urca, no tempo em que o jogo era permitido. Ele tinha gravado "Copacabana", pela Continental, em 1942, de Jo�o de Barro, o nosso querido "Braguinha". Sucesso absoluto que ouve-se at� hoje, nas r�dios de bom gosto.

Mas Dick queria mais, muito mais. Seu "papa" era Frank Sinatra, "The Voice". Nele se inspirava para cantar, gesticular, andar no palco, estar sempre de gravata e cabelo bem penteado. J� o chamavam de "O Sinatra Brasileiro" e havia at� um Fan Clube, de carteirinha e tudo: "Sinatra-Farney Fan Club".

Aos vinte e cinco anos foi para os Estados Unidos para tentar cantar e gravar em ingl�s, levando um contrato inicial de cinq�enta e duas semanas com a Cadeia de Radio NBC. E n�o � que deu certo? Gravou um grande sucesso da �poca: "Tenderly". Nos dois anos seguintes a Continental lan�ou outros sucessos, cl�ssicos como "Ser ou n�o ser", "Marina" e "Esquece".

Eram os anos 1947 e 1948, quando voltou para o Brasil - n�o sem antes ser elogiado pessoalmente pelo maior cantor do s�culo: Francis Albert Sinatra. Como escreveu Ruy Castro, em rela��o a Frank Sinatra, ouso repetir a frase com rela��o a Dick Farney: "N�o creio que o s�culo vinte tenha fundos para resgatar sua d�vida emocional para com Dick Farney". Ele emocionou milh�es de cora��es com "Somos Dois", "Marina", "Copacabana", "Nick Bar", "Aeromo�a", "N�o tem Solu��o", "A saudade mata a gente", "Tereza da Praia", "Uma loira", "Um Cantinho e Voc�" e tantas outras belezas!

Os bronzeados rapazes de Copacabana
Roberto Menescal, Carlos Lyra e a Academia de Viol�o


Em 1956, pressionado pela familia, Menescal teve que "deixar a boa vida" de pesca submarina, viol�o e milk shake. E veio o conflito natural de todo jovem: a escolha da profiss�o. N�o sabia se, continuando a tradi��o familiar, faria o vestibular para Arquitetura, se entrava para a Marinha (onde havia muitos "barquinhos" e muito peixe pra pescar), ou continuava a aprender viol�o com o Edinho, do Trio Irakitan, para desgosto dos pais.

Falsificando a carteira de estudante, come�ava a invadir os lugares da noite carioca, fascinado pelo Tito Madi e pela Sylvinha Telles.

Fascinado tamb�m pelo disco "Julie is her name", onde um tal de Barney Kessel "destro�ava" um tremendo viol�o!

Preocupados, os pais observavam o fanatismo do Menescal, que cursava o �ltimo ano do Curso Cient�fico do Col�gio Mello e Souza, na Rua Xavier da Silveira.

Ele soube que no Col�gio Mallet Soares, na mesma rua, um tal de Carlos Lyra j� tocava viol�o por cifra, quase profissional. Muitos alunos, e at� professores, "matavam aula" pra ouvir o viol�o do Carlos Lyra, que j� gravara duas m�sicas. Sem o conhecimento dos pais, Menescal rapidamente pediu transfer�ncia para o Mallet Soares. Queria ficar perto do mestre das harmonias.

Era 1956. Os pais de Menescal, como todos os pais, n�o aceitavam o viol�o, de jeito nenhum. Era "instrumento de bo�mio irrespons�vel". E, coitado do Menescal, que n�o tinha nada de bo�mio. N�o fumava. S� bebia milk shake. Com a mesada cortada pelos pais preocupados, o nosso Menescal teria que virar-se. Sem dinheiro para o milk shake, prop�s ao Carlinhos Lyra abrirem uma Academia de Viol�o. Mais que depressa, Carlos Lyra aceitou, louco pra se livrar dos desvelos de sua super-m�e.

MENESCAL, CARLOS LYRA E A ACADEMIA DE VIOL�O
HIST�RIAS NO APARTAMENTO DA RUA S� FERREIRA


Jo�o Paulo, amigo de Carlos Lyra, tinha um pequeno apartamento na Rua S� Ferreira, para "encontros furtivos".

Sabendo que os dois "professores" planejavam montar uma Escola de Viol�o prop�s-lhes o seguinte:

- Voc�s me pagam 10% do que receberem dos alunos e a "Academia" pode come�ar. Fica estabelecido que os "encontros" est�o automaticamente suspensos.

Negocio fechado. E o que parecia uma aventura come�ou a dar bons frutos. Aluno n�o faltava, s� que a grande maioria era composta de alunas. As m�es zelosas come�aram a desconfiar do repentino interesse de suas filhas pelo viol�o. E logo souberam da verdade: Os professores eram "dois tremendos boas pinta".

Mas... neg�cio � neg�cio e os professores faziam quest�o de manter a Academia nos r�gidos padr�es de respeito �s alunas, principalmente o Roberto Menescal.

Sucesso absoluto. Em poucas semanas j� havia quase cinq�enta alunas, inclusive a Nara Le�o, em cujo apartamento aconteciam as reuni�es t�o famosas.

Carlinhos Lyra, que j� tinha composto sua primeira m�sica [e letra], "Quando chegares" [1954], tinha na pra�a as m�sicas "Menino" e "Foi a noite", gravadas pela Silvinha Telles. Ficou independente das "mesadas maternas".

Enquanto dava aulas de viol�o, Carlos Lyra , em 1956, "estoura" com seu primeiro grande sucesso: "Maria Ningu�m". Mal sabia que seria uma das m�sicas favoritas de Jaqueline Kennedy que cantava "Maria Nobody"!

Da� em diante foi s� sucesso. O mestre Tom Jobim afirmava que Carlos Lyra era autor das melhores harmonias. Em 1962 ele estava no famoso Concerto de Bossa Nova, no Carnegie Hall, de Nova York. Uma tremenda desorganiza��o que fez a Bossa ultrapassar fronteiras e ganhar o mundo. Nesse mesmo ano comp�e com o mestre Vinicius o musical "Pobre Menina Rica".

Carlos Lyra perguntava ao Vinicius de Moraes:

- Mas, Vinicius, como pode uma menina da Vieira Souto se apaixonar por um mendigo?

E o nosso "poetinha" retrucou: 

- � primavera! � primavera!

Nesse musical est�o duas obras primas de poesia e m�sica: "Minha namorada" e "Primavera". Sem d�vida, duas das mais belas obras da nossa MPB.

SURGE UM NOVO PERSONAGEM NA HIST�RIA DA BOSSA NOVA
RONALDO B�SCOLI ENCONTRA ROBERTO MENESCAL
E COME�A UMA PARCERIA DE PRIMEIRA QUALIDADE


Era 1956. Numa roda de viol�o, na G�vea, Menescal encontrou um grupo de rapazes cantando "coisas diferentes". Um deles tentava cantar m�sicas de Dick Farney, o que j� era atestado de bom gosto. Era um rep�rter do jornal "�ltima Hora" chamado Ronaldo B�scoli. E cantava muito mal. Conversa vai, conversa vem, viram que tinham muita coisa em comum: Detestavam a tristeza das m�sicas que � �poca pareciam "dor de cotovelo". A exemplo de Dick Farney, adoravam Frank Sinatra. O forte do Menescal sempre foi a m�sica. O do B�scoli, a letra.

Marcaram um encontro que n�o houve, mas no segundo, na casa de Nara, os dois disseram "presente". J� era 1957 e a "Academia do Viol�o" estava fechada,"por motivo de for�a maior".

Ronaldo B�scoli levou Chico Feitosa, (com quem dividia um apartamento) �s famosas reuni�es em casa de Nara. Chico j� era parceiro de B�scoli na can��o "Fim de noite" e o nosso Ronaldo acabou instalado na casa de Nara, gra�as � extrema bondade dos pais da futura "musa da bossa nova". Ele tinha 28 anos e ela apenas 20. Nara e os pais se encantaram com o h�spede. Charmoso, inteligente e, como ela, muito t�mido, o que aumentava a atra��o. J� sa�am juntos, sem receios dos pais. Sabiam que em sua companhia ela n�o corria riscos.

A essa altura Carlinhos Lyra e Menescal reuniram suas economias e reabriram a Academia. Novo sucesso: 200 alunas! E quando o Menescal apresentou Carlos Lyra ao Ronaldo B�scoli, a� sim, a Bossa Nova come�ou a ficar mais rica, em quantidade e qualidade de poetas, cantores e compositores. E come�ou o sucesso: "Se � tarde me perdoa", "Lobo Bobo". E a Academia prosperava, j� com um terceiro professor: Normando Santos. E a turma da casa de Nara aumentou mais ainda, com a chegada dos irm�os Castro Neves, M�rio e Oscar, dois "ases" em m�sica instrumental.

NARA LE�O
SEU TALENTO, SUA VOZ, SEUS LINDOS JOELHOS
AS FAMOSAS REUNI�ES EM SEU APARTAMENTO


Dr. Jairo Le�o e sua mulher, dona Tinoca, eram do Esp�rito Santo, mas foi aqui no Rio que sua carreira de advogado teve �xito.

Tinham duas filhas: Danuza, a mais velha, e Nara, que nasceu em 19 de janeiro de 1942 e veio para o Rio aos dois anos. Tinha apenas quatorze quando a Bossa Nova entrou na sua vida. Era 1956.

O "Cursinho de Viol�o" recebeu uma nova aluna: Nara Lofego Le�o.

Ao contr�rio do pai de Menescal, o Dr. Jairo tinha uma outra opini�o no que diz respeito ao famoso instrumento. Mesmo antes de existir a escola de viol�o, Nara j� possuia um viol�o e um famoso professor: Patricio Teixeira, que dava aulas em sua casa. Levava n�tida vantagem em rela��o �s colegas de classe, claro.

Foi Ronaldo B�scoli quem descobriu a beleza dos seus joelhos.

Escreve ele:

"Chegando l�, toquei a campainha e quem me recebeu foi a pr�pria Nara. Estava de shortinho curto, deixando inteiramente a descoberto seus joelhos redondinhos, que foram objeto de muitas poesias, cr�nicas e suspiros gerais."

Nos �ltimos anos de 1950, trabalhava como rep�rter, num jornal do Rio. Estreou profissionalmente em 1963, cantando no musical "Pobre Menina Rica", de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. Gravou duas faixas no disco de Carlos Lyra "Depois do Carnaval": "� t�o triste dizer adeus" e "Promessas de voc�". No ano seguinte, em 1964, gravou seu primeiro LP: "Nara". Um disco muito pol�mico, porque misturou Bossa Nova com samba de morro que "n�o tinha nada a ver".

No fim daquele ano gravou o famoso "Opini�o" e participou do show-protesto. Como Carlos Lyra, Nara era o que se chamava uma cantora "politicamente engajada". Em 1965 convidou uma nova cantora, Maria Beth�nia, para substitu�-la no show. Tornou-se, assim, descobridora da famosa cantora baiana.

1966 foi um ano de grandes sucessos: "A Banda", de Chico Buarque e "Disparada" de Geraldo Vandr�. "A Banda" dividiu com "Disparada" o primeiro lugar no II Festival de M�sica Popular Brasileira da TV Record. Sucesso fulminante. O compacto vendeu 55 mil c�pias em apenas quatro dias.

Um tumor, localizado em seu c�rebro, causou sua morte em 7de junho de 1989. Ela resistiu quase quatro anos.

ANT�NIO CARLOS JOBIM

A Bossa Nova j� nasceu aben�oada por Deus. Teve a participa��o brilhante do maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim - ou simplesmente Tom Jobim.

� unanimidade nacional: Tom foi a figura mais importante da m�sica brasileira, em toda a sua hist�ria, s� compar�vel a Villa-Lobos, a quem admirava profundamente. Conhecido e reconhecido em todo o mundo, Tom havia mudado de endere�o, indo morar em Copacabana.

Em 1954, Tom retornou a Ipanema, para famoso endere�o: Rua Nascimento Silva,107 apartamento 201. Foi nele que, em parceria com Vinicius de Moraes, comp�s o cl�ssico "Se todos fossem iguais a voc�", em 1956. Em 1957, comp�s outro cl�ssico, "Chega de saudade" e reencontrou Jo�o Gilberto. Alguns pesquisadores acham que daquele encontro resultou a Bossa Nova. Vinicius de Moraes concorda, mas o tema � muito controvertido. Em 62 Tom veio morar perto de mim, aqui na Rua Bar�o da Torre, tamb�m n�mero 107 e aqui ficou at� 1965. Naquele ano recebeu um bom dinheiro de direitos autorais e comprou uma casa na G�vea, na Rua Codaj�s, deixando (fisicamente) Ipanema para sempre. Mas Ipanema, e n�o Copacabana, � o ber�o da Bossa Nova. Escreve Ruy Castro em "Ela � Carioca":

"...embora a vitrine da Bossa Nova fosse Copacabana, o cora��o musical do movimento estava em Ipanema. Foi aqui que ele comp�s, com Newton Mendon�a, "Foi a Noite", "Caminhos Cruzados", "Discuss�o", "Domingo Azul do Mar", "Medita��o", "Desafinado" e "Samba de uma nota s�". Aqui ele comp�s, com Dolores Duran "Estrada do Sol", "Se � por falta de adeus" e "Por causa de voc�".

Em Ipanema ele comp�s "Eu sei que vou te amar", "A felicidade", "Insensatez", "Agua de Beber", "O amor em Paz", "Por toda a minha vida", "O grande amor", "O morro n�o tem vez", "Ela � Carioca", "Garota de Ipanema", "Dindi", "In�til Paisagem", "Samba do avi�o" e tantas obras primas.

Ser� coincid�ncia que a fase mais solar e mar�tima da obra de Tom tenha sido feita quando ele morava aqui?"

O que voc�s acham?

VIN�CIUS DE MORAES
O CASAMENTO PERFEITO: DOIS G�NIOS SE ENCONTRAM NA BOSSA


Aos quarenta e cinco anos, em janeiro de 1958, Vinicius - o poeta, encontra a semente da Bossa Nova em "Chega de Saudade" - uma das faixas do LP "Can��o do Amor Demais", gravado por Elizeth Cardoso. Seu parceiro - o maestro maior - foi Tom Jobim. A Bossa Nova nascia privilegiada. Tr�s "monstros sagrados". J� podia-se ouvir a batida do viol�o de Jo�o Gilberto. De repente um diplomata foi promovido a guru de um movimento musical. E n�o parou mais de escrever maravilhas.

Entre 58 e 65 produziu, com Tom Jobim, cinq�enta t�tulos, quarenta com Baden Powel, trinta com Carlos Lyra e vinte com Edu Lobo.

Entre 58 e 65 produziu, com Tom Jobim, cinq�enta t�tulos, quarenta com Baden Powel, trinta com Carlos Lyra e vinte com Edu Lobo.

A rigor pode-se dizer, sem medo de errar, que a mudan�a radical da poesia na MPB come�ou com Vin�cius de Moraes. A mulher traidora, vulgar, vil� e vagabunda cedeu o lugar � garota bonita cheia de gra�a, � mulher amada e linda. A mulher rejuvenesceu, deixou de ser vamp. Passou a ser graciosa.

Foi a dupla Tom-Vin�cius que universalizou a Bossa Nova.E, pasmem, foi muito criticada por alguns cr�ticos "de mal com a vida". A Bossa foi acusada de influ�ncia americana, quando, ao contr�rio, influenciou e contagiou a m�sica de Tio Sam.

� muito extensa a obra po�tica de Vin�cius, liter�ria e musical.

BADEN POWEL
A BOSSA NOVA ENRIQUECE E GANHA O MAIOR VIOLONISTA DO PA�S


Roberto Baden-Powell de Aquino, ou simplesmente "Baden Powell" nasceu numa cidadezinha do interior fluminense chamada "Varre-e-sai" em 6 de agosto de 1937. Veio para o Rio em 1955 indo morar em S�o Cristov�o.

Neto e filho de m�sicos, o garoto herdou o talento e a genialidade que estarreceram o mundo anos mais tarde. Seu primeiro viol�o foi "roubado" de uma tia e seu primeiro professor foi o Meira - violonista da orquestra de Pixinguinha.

Baden come�ou a tocar profissionalmente no Cabar� Brasil e, mais tarde, na boite do Hotel Plaza, onde se reuniam os primeiros "bossanovistas". Seu primeiro sucesso foi "Samba Triste", composto em 1959, em parceria com Billy Blanco.

Escreve Luiz Carlos Maciel: "Para mim, Baden Powell � o maior compositor da genu�na m�sica popular brasileira - ningu�m faz uma seresta moderna melhor que ele. Toca tudo que � poss�vel e toca melhor do que todo mundo. Ningu�m harmoniza melhor do que Baden. Ningu�m. Eu o conheci atrav�s de Dolores Duran, no Beco das Garrafas, no Little Club... tenho quase certeza de que fui eu quem o aproximei de Vinicius de Moraes."

Parecia que "uma qu�mica especial" existia entre os dois. Ficavam dias inteiros tentando encontrar o fim de uma can��o! A primeira parceria foi "Samba em Prel�dio". E se seguiram mais de 50 cl�ssicos. Baden teve muitos parceiros po�ticos, inclusive Paulo Cesar Pinheiro. Desse ultimo, eu gosto muito de "Viol�o Vadio" que Eliseth interpreta magistralmente. O longo per�odo em que viveu na Europa fez com que seja muito mais conhecido naquele continente, principalmente na Fran�a e na Alemanha.

�, sem d�vida, o maior violonista do Brasil em todos os tempos, n�o s� pela t�cnica, mas pela capacidade de criar. Ningu�m criava acordes mais lindos. Baden suplantava a todos.

PERY RIBEIRO
A MAIS LINDA VOZ DO BRASIL GRAVA "GAROTA DE IPANEMA"
UM CL�SSICO DA BOSSA NOVA


Pery Ribeiro � filho da famosa cantora Dalva de Oliveira e do compositor Herivelto Martins. Esse nome art�stico foi sugerido e adotado pelo apresentador C�sar de Alencar nos anos cinq�enta.

Gravou seu primeiro disco em 1960. No ano seguinte gravou dois grandes sucessos da dupla Antonio Maria e Luiz Bonf�: "Manh� de Carnaval" e "Samba de Orfeu". � um cantor de estilo genuinamente rom�ntico e de seus relacionamentos com a Bossa Nova surgiu a primeira grava��o de "Garota de Ipanema", de Tom e Vinicius, feita em 1963. Gravou doze discos desse repert�rio, dos quais se destacam:

- "Pery Ribeiro sings Bossa Nova Hits" [1980]

- "Os grandes sucessos da BossaNova" [1980]

Pery � um cantor completo: Um lindo timbre de voz, respira��o perfeita, apurado uso do diafragma e uma �tima divis�o de frases. Pena n�o ter o reconhecimento merecido.

Desenvolveu trabalhos jazzisticos com Leny Andrade e Bossa Tr�s, com quem obteve sucesso na grava��o ao vivo do show "Gemini V", viajando pelo M�xico e Estados Unidos, onde atuou tamb�m ao lado do Conjunto S�rgio Mendes.

Recomendo um disco perfeito do Pery que ou�o quase diariamente:

- "Tributo a Taiguara"

Imperd�vel!

L�CIO ALVES
OUTRO GRANDE PIONEIRO DA BOSSA NOVA


No seu livro -"A onda que se ergueu no mar"- Ruy Castro escreve, com o brilhantismo e a compet�ncia de sempre, um �timo resumo biogr�fico de Lucio Alves, fazendo um paralelo com a vida de outro "monstro sagrado": Dick Farney.

"Os dois tornaram cl�ssico quase tudo que gravaram. Inspiraram seguidores sofisticados, abriram o caminho para a Bossa Nova, participaram dela como ministros sem pasta e, juntamente com ela, foram atropelados pelo processo. Na passagem dos anos 60 para 70, os dois viram seu mercado encolher dramaticamente. Mas nunca se prostitu�ram, nunca fizeram concess�es a estilos em que n�o acreditaram. E pagaram por isso: morreram tristes, abandonados pelas gravadoras, afastados do p�blico - Dick, em S�o Paulo, em 1987, aos 66 anos; Lucio, no Rio, em 1993, tamb�m aos 66 anos."

Lucio Alves nasceu em 1927, em Cataguazes, Minas Gerais, mas aos sete anos j� estava no Rio. Muito jovem estreou no Programa "Picolino", na Radio Mayrink Veiga. Tinha apenas nove anos e j� se apresentava, cantando o repert�rio de Orlando Silva, mas sua grande paix�o era a voz do seu �dolo: Bing Crosby. Aos quatorze anos formou o Conjunto "Namorados da Lua". J� fumava desde os nove anos, "tomava umas e outras" e morava com uma mulher que tinha o dobro da sua idade!

E foi a� que surgiu seu primeiro sucesso: "De conversa em conversa", em parceria com Haroldo Barbosa. Da� em diante, foi s� sucesso: 1945:"Eu quero um samba".

Lucio Alves gravou quase todo o repert�rio de Dick Farney. Os dois empolgaram a garotada que viria a fazer a Bossa Nova: Johnny Alf, Jo�o Donato, Dolores Duran, Billy Blanco, Tom Jobim, Newton Mendon�a, Tito Madi e Carlos Lyra.

Em 1954, Dick e Farney receberam "um presente" de Tom e Billy: O cl�ssico "Tereza da Praia", em homenagem a Tereza Hermany - mulher de Tom Jobim. M�sica e uma letra ma-ra-vi-lho-sas!.

Poucos sabem que Lucio Alves foi uma presen�a ativa nos primeiros shows amadores da Bossa Nova. Carro-chefe do famoso show na Escola Naval. Esse eu vi, acreditem!

HIST�RIAS PITORESCAS DA BOSSA NOVA

Todo mundo ouvia falar muito de Jo�o Gilberto. Diziam que era um cara maluco, que j� havia sido internado, vivia de cabelo enorme, barbado e que, como um vampiro, s� sa�a � noite.

Certo dia, chegou � casa do Ronaldo B�scoli. N�o era nada do que diziam as m�s l�nguas.

Cabelo cortado, barba feita, sapato engraxado e, claro, um viol�o debaixo do bra�o. Tocou um viol�o fant�stico que deixou todo mundo boquiaberto e explicou que tinha brigado com o Tito Madi, n�o tendo para onde ir. J� era madrugada quando Jo�o, convidado pelo B�scoli, mudou-se para o pequeno quarto-e-sala do Edif�cio Haiti onde j� moravam, al�m do B�scoli, Mi�le e um empregado chamado Chico. Cinco "artistas" num quarto-e-sala.

Era um sujeito de h�bitos muito estranhos. Ficava horas ao telefone, horas no banheiro, para desespero dos outros moradores. Dormia vestido, com uma gravata tapando os olhos. Ficava, como um morto, em dec�bito dorsal. Sempre muito limpo, muito asseado.

Havia um sistema para compras de mantimentos para a casa em que todos cooperavam. S� que o Jo�o Gilberto s� comprava o que gostava: Tangerina!

Ia pra rua de madrugada, passava na feira e comprava quilos de tangerina. Chegava por volta das seis horas e acordava todo mundo, cantando as m�sicas do dono da casa, Ronaldo B�scoli. Aprendeu "Lobo Bobo" (que o B�scoli fez para a Nara) e "Saudade fez um Samba", com acordes magn�ficos, deslumbrando a todos.

Certo dia disse ao Ronaldo (a quem ele chamava de "Ronga"):

- "Que su�ter bonito, Ronga! Voc�s cariocas tem bom gosto! Me empresta?".

O coitado do B�scoli emprestou o lindo su�ter que ficou pra sempre com o "cara-de-pau".

Quem quiser ver, compre o primeiro LP que gravou: "Chega de Saudade". O su�ter est� l�.

Quando a Bossa Nova come�ou a ser descoberta, produzida e respeitada pela imprensa, algumas das mais lindas mulheres de Copacabana come�aram a se interessar tamb�m pelos seus autores e cantores, que passaram a ser literalmente "cantados". Elas organizavam festas em seus grandes apartamentos e disputavam avidamente a aten��o dos gal�s.

Tom, Menescal, B�scoli, Carlinhos e Normando eram os alvos principais. O primeiro era o mais cobi�ado, embora casado e super-vigiado por sua mulher - Teresa Hermany.

Consta que quando uma mo�a apaixonada pelo "bom pinta" debru�ava-se no piano, exibia seu generoso decote e dizia languidamente: "-Tom, voc� me leva em casa?", ele respondia:

"- Um momentinho, vou telefonar pra Teresa".

Mas n�o resistiu aos encantos da atriz francesa Milene Demongeot.

Normando Santos, que era professor de viol�o na escolinha de Carlos Lyra e Roberto Menescal, tinha uma aluna especial: Maria Teresa - mulher do ent�o Vice-Presidente da Rep�blica, Jo�o Goulart. Reza a lenda que ela o convidou para "ver um filminho no Pal�cio, �s quatro horas". Contente da vida, nosso amigo foi ao cinema Pal�cio, comprou os ingressos e ficou na porta, � espera daquela beleza de mulher. Esperou, esperou e nada! Voltou pra casa.

Depois ficou sabendo que ela o esperava no Pal�cio Laranjeiras, n�o no cinema Pal�cio....


S�stenes Pernambuco Pires Barros morou na Rua Bar�o da Torre, em Ipanema, quase esquina de Vin�cius de Moraes. 

Estudioso e apreciador da "Bossa Nova", tinha uma grande cole��o de discos, CD's e livros sobre o assunto.

Nem precisa dizer que era freq�entador ass�duo da "TOCA DO VIN�CIUS" (R. Vin�cius de Moraes, 129 - Tel 2247-5227), bem perto da sua casa, onde fomos encontr�-lo para tomar um chope. 

S�stenes

S�stenes, em seu escrit�rio.

S�stenes Pernambuco Pires Barros

S�stenes Pernambuco Pires Barros


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