Bairros t�m cara, charme, temperamento, hist�ria - como a gente que neles mora. H� bairros pomposos, com o brilho cintilante da fama, conquistada aqui e no mundo. Em compensa��o, h� outros nos quais a for�a da mod�stia, da simplicidade, do aconchego humano se fazem sentir sem a exibi��o, como aquelas flores que nascem, vivem e morrem � beira de pobres estradinhas, vivendo sua gl�ria apenas diante de caminhantes solit�rios.
Cordovil � um bairro simples, modesto. Em v�o se buscar� o brilho fe�rico de grandes acontecimentos ligados a ele. � in�til procurar refer�ncias que o destaquem, que acentuem uma gl�ria ef�mera. N�o h� monumentos a filhos ilustres, pr�dio suntuosos, ruas movimentadas.
Cordovil � bairro no que os bairros t�m de melhor: s�o o lugar da casa para onde se volta depois do dia de labuta; e s�o a casa ampliada, na rela��o gostosa com a vizinhan�a.
Poucas ruas, algumas pra�as, a esta��o da antiga Leopoldina. Eis o Cordovil aparente.
Mas o Cordovil real, o bairro verdadeiro, n�o � feito de pedra e cal, mas de sentimentos, palavras, gestos. E tamb�m de lembran�as.
Bairro de casas, de hospitalidade, das honestas rela��es do cotidiano, estas sim, coisas que d�o solidez � vida. Cordovil sempre foi assim.
No passado, o trem suburbano trazia de volta os oper�rios cansados para os bra�os da fam�lia. Os antigos lota��es paravam na pracinha principal, tamb�m trazendo gente, que curtia um finzinho de dia no bar da esquina, at� que uma lua branca ficasse muito alta no c�u, de jeito a poder iluminar todos os quintais. Era hora, ent�o, do descanso, de preparar o corpo para a jornada do dia seguinte.
A barbearia, a quitanda, a padaria - coisas que a mem�ria enfeita e recupera agora, trazendo n�o somente imagens, mas cheiros e sons.
O barbeiro (como era mesmo o nome?), magrinho, muito calvo - numa esp�cie de ironia do destino - estava sempre sentado � porta com um jornal nas m�os. Sua voz um tanto rouca gritava sempre pelo quitandeiro, falando de futebol.
O quitandeiro, sempre com uma camiseta branca - de uma brancura milagrosa em meio a alfaces, tomates, laranjas e bananas - vivia mudando a gaiola de um can�rio de lugar, expondo o p�ssaro com carinho ao sol da manh�, como se isso fosse tudo o que ele queria, e n�o a liberdade para cruzar o c�u azul.
A padaria... Ah, o cheiro de p�o saindo do forno... Um menino, quase homem com a responsabilidade de ir buscar o p�o, sa�a pela rua, sem esquecer que o p�o custava mil e quinhentos.
N�o me perguntem quanto vale isso hoje, ou que moeda era aquela. Nada disso importa. O que importa � que Cordovil est� a�, com sua grandeza na simplicidade de bairro suburbano. E est�, tamb�m, no cora��o daquele menino, que sou eu, algu�m que tem orgulho de ter nascido em Cordovil.
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