Terra cercada de mar. Não nos confins de um oceano qualquer; em plena cidade; vizinha de todo o burburinho, mas tranqüila, acariciada pela brisa, cheirando sempre a maresia.
Gosto de pensar na Ilha assim: um bairro que navega ao lado da cidade; um barco feito de ruas, casas, árvores, antigas lembranças e coisas modernas.
Ilha do Governador. Um mundo de lugares bonitos e acolhedores: Portuguesa, Jardim Guanabara, Cocotá, Cacuia, Ribeira e tantos outros recantos. Cidade flutuante ao lado da cidade.
A Ilha sempre foi um paraíso, de onde se partia jovem, curioso de ver a cidade grande, em que se trabalhava e buscava condições de construir a vida. E oásis, para o qual se voltava, adultos, engravatados os homens, elegantérrimas as mulheres. Lugar para onde se volta ainda hoje ao final do dia, arrancando a gravata, jogando longe as saias de linho - entregando-se, homens e mulheres, à carícia do vento, ao prazer dos pés molhados pela água.
Ilha do Governador. Da barcaça afundada, das pontes novas e velhas, mas de um só acesso, circunstância que ainda preserva um pouco esse lugar especial.
Ilha do samba, da União da Ilha, segunda escola no coração de qualquer sambista do Rio e primeiríssima no coração de todos os seus moradores.
Ilha da cultura, com o Fundão e a diária e esperançosa miríade de jovens universitários estudando, pesquisando e - por que não? - se amando nas salas de aulas, nos desvãos de escadas, nos jardins onde persistem generosas visões da baía ao pôr-do-sol.
Além de tudo, a Ilha arranjou um jeito carinhoso de ligar-se também ao mundo inteiro. Tornou-se o chão acolhedor de muitos pássaros de prata que aterrissam em seus aeroportos. Com isso, a Ilha se fez abraço amigo, primeiro contato com o Rio, tanto de estrangeiros quanto dos filhos cujas almas cantam quando voltam à amada terra.
Ilha de trabalho e descanso. Ilha encantada que, todo dia, acolhe os náufragos do mar encapelado da cidade grande, os heróicos sobreviventes do cotidiano.
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