A Barra da Tijuca vive tinindo de nova. Lugar das "emergentes", ela mesma emerge, a cada dia: um condomínio novo aqui, outro shopping ali, um novo point acolá, nos surpreendem a toda hora, fazendo do imenso areal do início do século um mundão pós-moderno, que encanta pela pujança e assusta por fugir ao romântico porém racional traçado original do gênio Lucio Costa.
Menina quase transviada, a Barra força uma fuga pelos baixios de Jacarepaguá e corre, lépida e faceira, na direção de Guaratiba, Sepetiba e de outras lonjuras. De vez em quanto, vaidosa, sobe num contraforte de pequenas serras e se olha nos espelhos das lagoas, mirando satisfeita sua juventude, sua carinha de amanhã, seu jeitinho de esperança que aposta no moderno.
A Barra é mal contida pelo Rio. Ela, na verdade, contém o Rio. Sim, porque estamos todos lá: tijucanos nostálgicos; gente saudosa do Méier; ipanemenses que abandonaram sua Garota; traidores da Princesinha do Mar; e outros, muitos outros, dos subúrbios do Rio, da Baixada, do interior do Estado e do Brasil. Todos atraídos por esse eldorado urbanístico, decantado e vendido para povoar os sonhos da classe média.
Gosto de olhar a Barra. Mas uma Barra de fim do dia. Naquela hora em que os onipresentes automóveis trazem de volta uma multidão que aos poucos se encerra na almejada segurança de seus condomínios, gente que vai olhar a vida dos varandões, relaxando enquanto a última dose de uísque âmbar funde, aos poucos, o cristal líquido dos cubos de gelo. Nesse momento solene, um espetáculo me encanta os olhos. Pássaros cruzam em bandos o céu de um azul acinzentado, na direção do mar. Voam rápido, numa tarde silenciosa, em que uma Barra fervilhante, barulhenta, parece conceder um tributo diário à paz contida no silêncio. E esses pássaros voam numa formação singular: a forma de uma seta.Podemos pensar que essa seta aponta o futuro.
Alguém consegue imaginar um símbolo melhor para a Barra?
Fotos da praias do Rio de Janeiro
J. Carino é professor universitário
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