Texto de Ezna Dias Pinheiro
Revisão: Márcia Della Libera
O Palácio Pedro Ernesto, sede
do Legislativo Carioca, foi fundado em 1923 na gestão de Carlos
Sampaio, então prefeito do Distrito Federal, pois o Rio era, a
esse tempo, Capital do Brasil.
Heitor de Mello, responsável
pelo projeto, faleceu antes de ver sua obra concluída. Coube,
então, ao seu companheiro de escritório, Archimedes Memória,
finalizar a construção do Palácio Pedro Ernesto. O arquiteto
Heitor de Mello concluiu o projeto em 1911, ano em que o
Convento da Ajuda foi demolido, mas a construção só teve início
em 1920.
Além do Palácio, que por si só
já é um monumento da arquitetura carioca (tombado pelo Patrimônio
Histórico Nacional), existem em seu interior obras de grande
valor. Pintores reconhecidos internacionalmente como Eliseu
Visconti, Carlos Oswald, Rodolfo Amoêdo, entre outros, têm
suas telas expostas no Pedro Ernesto. O tríptico de Eliseu
Visconti, que fica no hall do Salão Nobre, é a obra mais
glamurosa. Ela retrata a cidade assentada num trono e as duas
figuras de destaque da história: o prefeito Pereira Passos e o
médico sanitarista Oswaldo Cruz.
O Salão Nobre, em estilo Luis
XV, é aquele recanto do Palácio onde o visitante entra
pensando em festa e se deslumbra com a beleza do ambiente com
arremates de tinta dourada e teto com obras dos irmãos
Chambelland e de Oswald, que lembram as tradições do Paraíso,
inspirados em ideais greco-romanos.
No Plenário destaque para a
pintura de Rodolfo Amoêdo, retratando a fundação da cidade
por Estácio de Sá. Na parede oposta, à frente da presidência,
tem-se o quadro “O suplício de Tiradentes” de Francisco Aurélio
de Figueiredo, ladeado pelas estátuas de Estácio de Sá e Rui
Barbosa, de autoria de Honório Peçanha. Bem ao lado do Plenário,
como ante-sala, vê-se a imponente Sala Inglesa em estilo
elisabetano, toda revestida de imbuia com pinturas que retratam
a ida e a volta do trabalho, de Décio Villares.
Saindo da Sala Inglesa vamos
encontrar o patriarca da Independência, José Bonifácio,
pensando o Brasil em tela de Eduardo de Sá, colocado na ala que
leva seu nome. Na ala seguinte encontramos o Conde de Bobadella,
Gomes Freire de Andrade, que governou o Estado do Rio no século
XVIII, de 1733 a 1763.
Mas, a história do Palácio
Pedro Ernesto não pode ser contada assim, sem envolvimento. Ao
contrário, não há como não se envolver, pois se trata da
história da cidade que cresceu a partir do extinto Morro do
Castelo e hoje se espalha até a bela Pedra de Guaratiba,
passando pela modernidade da Barra da Tijuca.
Em verdade tem-se que fazer um
passeio pelo Rio Antigo, “andar” pelo Morro do Castelo, onde
os portugueses se instalaram após expulsarem os franceses das
terras cariocas - termo usado pelos índios tupis para designar
as casinhas brancas surgidas na paisagem a partir da fundação
da cidade. Bem, voltando ao passeio.... adentremos a igreja de São
Sebastião, patrono da cidade, que tem ao lado o Mosteiro dos
Jesuítas, caminhemos um pouco pelo largo onde foi construída a
primeira sede do Legislativo Carioca e onde tantas festas
aconteceram, porque se há uma coisa que o povo carioca gosta é
de festas e, aproveitemos para dar uma espiada na privilegiada
paisagem. Que linda!!!! A Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar,
o Morro Cara de Cão, onde estavam instalados os franceses, o
Outeiro da Glória.... vista magnífica...!!!
Então desçamos o Morro pelo
caminho dos seminaristas, em direção ao Largo da Ajuda. Saímos
exatamente em frente à Escola Pública da Freguesia de São José,
que tem ao lado o Convento da Ajuda, onde vivem as freiras da
Ordem da Conceição. Esse espaço também já foi denominado
Largo da Mãe do Bispo, porque ali morou a mãe do Bispo José
Joaquim Justino Mascarenhas Castelo Branco, Dona. Ana Teodoro
Ramos de Mascarenhas.
Bom, como a polêmica também
é uma característica do carioca, o projeto desse convento não
poderia passar impune. Os homens da cidade foram contrários à
construção desse “esconderijo de mulheres”, já que, no
Brasil Colônia, elas eram extremamente necessárias para a
reprodução e conseqüente expansão. Mas Gomes Freire, o Conde
de Bobadella, não deu ouvidos à polêmica e atendeu à Ordem
da Conceição. Percebe-se a importância desse convento com a
morte de D. Maria I, rainha de Portugal e da imperatriz
Leopoldina. Ambas tiveram os despojos depositados no convento,
sendo que o da rainha, depois, foi levado de volta para o seu país.
Mas, o tempo passou, e toda
essa paisagem foi alterada com o prefeito reformador Pereira
Passos, ao abrir a avenida Central - atual Rio Branco - até a
beira mar, onde colocou o Obelisco. Em frente à praça, que
ficou mais definida, construiu o imponente Teatro Municipal.
Depois surgiram a Biblioteca Nacional, o Fórum, o Palácio
Monroe - primeira arquitetura do nosso país premiada
internacionalmente - que foi colocado próximo ao Obelisco,
assim que terminou a construção da Avenida Central, com todo o
carinho de Pereira Passos.
O certo é que uma área
dominada pelo poder da Igreja, pois estava circundada por
mosteiros e conventos, acabou por definir-se pelo poder da República
que ainda estava “novinha em folha”. E como a Escola da
Freguesia de São José já havia servido como sede do
Legislativo Carioca por diversas vezes, foi decidido que ali
seria construído o Palácio sede do Conselho Municipal. Com
isso, enquanto o Morro do Castelo ia abaixo, levando com ele a
nossa primitiva história, surgia no Largo da Ajuda o Palácio
Pedro Ernesto, obra um tanto quanto cara, e considerada até
extravagante, mas que hoje enche os olhos dos visitantes por sua
surpreendente beleza.
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