Fortaleza Santa Cruz em Niterói

No silêncio luminoso da tarde se ouve apenas o som do mar, com os eternos movimentos da sinfonia das ondas se quebrando, lá em baixo, contra a muralha de pedras. No mais, tudo é paz, num cenário de paraíso: o Rio ao fundo, com as montanhas verdes recortadas contra um céu de intenso azul, pássaros marinhos em vôos rasantes à procura de peixes...

Em volta, a impressionante solidez da Fortaleza de Santa Cruz, cravada para sempre nos rochedos, como a testemunhar a ferocidade das batalhas do passado, do tempo em que se tentava atacar ou defender, a qualquer custo, as terras e as riquezas a serem pilhadas no Novo Mundo.

Muros brancos, cinza escuro das pedras, verde da vegetação que, à custo, sobrevive entranhada nos desvãos das rochas. O cenário é grandioso. E se torna dramático com a visão dos canhões, que insistem em apontar suas bocas ainda ameaçadoras para a entrada da baía, numa demonstração de heroísmo corroída pelo tempo.

Se a gente deixa a imaginação fluir, ela nos leva aos idos de 1555, quando o francês Villegaignon buscava um lugar onde pudesse fincar suas defesas para tentar invadir e conquistar a cidade aos pés do morro Cara de Cão. E achou estes penhascos do outro lado da deslumbrante baía, onde passou a se defender da reação dos portugueses, conquistadores que chegaram primeiro a este mundo tropical de riquezas.

Podemos imaginar o troar dos canhões, a fumaceira, o cheiro de pólvora – tudo que permitia o arremesso das balas, grandes bolas de ferro que voavam a grandes distâncias para infringir pesadas baixas aos inimigos.

As construções de paredes de pedras, os muros sólidos, a área sobre o rochedo viam mover-se homens fortes e rijos, envolvidos na crueza da guerra, em meio ao fragor da batalha.

Dois anos depois que Villegaignon construíra, com imenso esforço, esta fortaleza supostamente inexpugnável, perdeu-a numa batalha para o intrépido Mem de Sá. Os portugueses, vencedores, assumiram seu posto neste ponto privilegiado para o domínio da entrada da barra. E o que fizeram primeiro foi invocar sua fé católica para abençoar sua trincheira de guerra.

Como buscando uma orientação dos céus em suas conquistas na terra, deram à fortaleza o nome de Nossa Senhora da Guia. A esta santa, viria, muito mais tarde, em 1612, juntar-se outra, Santa Bárbara, protetora dos artilheiros, em intenção da qual foi construída uma capela no interior da fortaleza.

A história de heroísmo da Fortaleza de Santa Cruz, na defesa das terras brasílicas contra invasores não teve correspondência nos tempos republicanos, quando as edificações se transformaram em presídio. Nessa guerra político-ideológica, menos barulhenta e talvez mais devastadora e venenosa do que outras guerras, homens ilustres passaram a ser encarcerados em suas masmorras, como se idéias pudessem ser aprisionadas. Idealistas como José Bonifácio, Euclides da Cunha e Bento Gonçalves tiveram de olhar por estreitas aberturas o céu azul que nos cobrem e as montanhas que nos cercam neste paraíso. Devia lhes ser particularmente amargo esse gostinho de liberdade...

Em episódios da história brasileira que levaram a embates fratricidas, como a Revolta da Armada e a Revolta Tenentista, o poder de fogo da fortaleza foi acionado. Em 1955, disparando contra o cruzador Tamandaré, as baterias foram utilizadas pela última vez como armas de guerra.

Quando se vem de Jurujuba, passando pela praia denominada 'de Adão e Eva', a chegada à fortaleza impressiona. De um lado, a rocha nua, na qual a estrada foi construída; de outro, o mar imenso, com uma visão maravilhosa da Cidade do Rio de Janeiro ao fundo. Do Pão de Açúcar à ponte Rio-Niterói, o olhar pode contemplar a beleza dessa paisagem sem igual.

Na praça defronte à entrada da fortaleza, cercados pelos velhos canhões, que parecem alertas vigiando o passado, podemos apenas imaginar combates, com destruição e morte. Na calma silenciosa da tarde, a alma só luta para captar a beleza, só combate para preservar o avassalador poder pacificador deste maravilhoso cenário.

O que seria a Terra de Santa Cruz dos guerreiros acabou se transformando, graças ao púrpura disputadíssimo da tintura possibilitada pela madeira singular, em Brasil, terra de paz e encantos. Porém, este lugar encantador manteve o belo nome pelo qual foi conhecido ao longo de sua história: Fortaleza de Santa Cruz.

Texto e fotos de J.Carino.

Menu de Niterói
Apresentação - Almas gêmeas Niterói e Rio de Janeiro
Ilha da Boa Viagem em Niterói
O M. A. C. - Museu de Arte Conteporânea
Icaraí
Campo de São Bento em Niterói
Jurujuba
Fortaleza Santa Cruz em Niterói
Araribóia
Jardim eclético
Igreja de São Francisco em Niterói
Mercado do Peixe de Niterói