Icaraí - Niterói

Andar por Icaraí é um prazer para quem está disposto a deixar o corpo bronzeado de sol e o espírito embebido em sensações que podem ir de impulsos consumistas, nas lojas, galerias e shoppings coloridos, à serenidade das igrejas e templos; da sudorese das academias aos ruidosos jardins de infância; da movimentação dos caminhantes de calçadão à calma ensombrada das praças.

Icaraí é isso – intensidade da vida e agudeza de contrastes. O bairro tem um ritmo e um colorido que raros bairros têm. A elegância passeia por suas ruas de braços dados com a informalidade. O trabalho e o lazer gostosamente se confundem em suas ruas e avenidas.

Gosto de descer as ruas de Icaraí em direção ao mar. Bom é fazer isso devagar, deixando que a barreira da altura dos edifícios vá, aos poucos, tendo seu ensombrado substituído pela luminosidade da praia, pelo azul rasgado que colore generosamente o céu do bairro.

Com tanta coisa pra ver e fazer, custa-se a acreditar que Icaraí tem pouco mais de dois quilômetros quadrados. É muita intensidade vital em tão pouco espaço!

Esse pequeno quadrilátero foi, afortunadamente, abençoado desde seus primórdios. “Carahy”, na língua-mãe de nossa nacionalidade, o tupi-guarani, quer dizer “bento”. O lugarejo, que integrava as terras doadas a Araribóia, intrépido guerreiro que batalhou ferozmente em favor da terra, via correr um rio de águas cristalinas, chamado pelos indígenas “I-Carahy”, rio sagrado. Esse sacrossanto batismo certamente ainda ampara Icaraí, nos dias atuais, garantindo-lhe a beleza natural, o clima gostoso, a ambiência acolhedora e tantas outras coisas que fazem os visitantes gostarem tanto do bairro, mesmo hoje, quando integra um espaço de cidade grande, com todas as mazelas que o tempo se encarregou de acumular em todas as urbes.

Desses tempos heróicos no início do processo civilizatório e da construção da brasilidade, sobraram importantes sinais, como a Pedra do Índio. Ali está, como a relembrar, na perenidade da pedra, valores encontrados neste lado do mundo por cruéis colonizadores, que acabaram integrando uma das mais enfáticas e construtivas miscigenações jamais acontecidas em todo o mundo. 

Podemos encontrar essa miscigenação, encarnada em sorrisos, curvas e requebros, nas beldades que encantam nossos olhos enquanto se espreguiçam ao sol, ainda que a crueza da poluição as impeça de mergulhar os belos corpos em águas cristalinas, como fizeram, por séculos, no dizer romanesco de José de Alencar, as “virgens de lábios de mel”.



Passear pelo calçadão desde São Judas à Reitoria, ou entrar por qualquer uma das ruas, desde a praia até os limites em Santa Rosa e Vital Brazil, permite que a gente sinta essa diversidade do bairro – cores, sons, pessoas, prédios, lojas, automóveis, um movimentadíssimo aglomerado urbano -, ao mesmo tempo em que se manifesta também uma certa homogeneidade, um modo de ser de bairro que diferencia Icaraí de qualquer outro lugar.



Um cafezinho aqui, um sorvete ali, uma cerveja acolá, um jogo nas redes de vôlei ou de bola pesada nas areias da praia, partidas de buraco nas barracas à beira do calçadão, um filme, um show e uma exposição na UFF, a simples observação dos pequenos niteroienses brincando na Praça Getulio Vargas ou no Campo de São Bento, compras nas feirinhas... Tudo isso e muito mais é o bairro de Icaraí.



Não tenho dúvidas: por debaixo da superfície do bairro, e na vida dos que vivem nele ou somente passam por ele, corre um rio, um I-Carahy de cultura, vida e prazer, que flui e continuará fluindo sempre, para alegria de nossos olhos e de nossos corações.

Texto e fotos de J.Carino.

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