Alma Carioca

Invasão francesa no Rio de Janeiro
França Antártica

A França Antártica - Invasão francesa no Rio de Janeiro

No governo de Duarte da Costa ocorreram diversas incursões de corsários de potências européias, dentre elas a dos franceses. A França não reconhecia o Tratado de Tordesilhas e defendia o princípio do direito à posse da terra por quem a ocupasse. Assim, foram duas as tentativas francesas de fixação no território brasileiro: a primeira no Rio, a França Antártica, em 1555. A segunda, no Maranhão, a França Equinocial, a partir de 1594.

Os franceses aportaram na Baía de Guanabara em 1555, comandados por Nicolau Durand de Villegaignon e se fixaram na Ilha de Serigipe, na Baía de Guanabara. Por dez anos resistiram aos portugueses, organizaram um Arraial e construiram um forte, chamado Coligny. 

Pretendiam garantir a exploração do pau-brasil no litoral sul e conseguir um espaço onde os protestantes franceses pudessem exercer livremente sua religião. 

Fizeram amizade com os índios Tupinambás que, junto com outras nações indígenas, guerreavam com os portugueses contra sua escravização. A união das tribos indígenas contra os portugueses ficou conhecida como a Confederação dos Tamoios.

A primeira expedição organizada por Mem de Sá contra os franceses ocorreu em 1560. 

Com a destruição do forte de Coligny, foram expulsos temporariamente da baía de Guanabara. 

Em 1563 a Metrópole enviou reforços para o governador. 

Em 1º de março de 1565, Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que serviria inicialmente de base na luta contra os franceses e seus aliados indígenas.

Mesmo após a fundação do Rio, os franceses não deixaram a cidade. Em 1567, no dia 18 de janeiro, Mem de Sá mandou reforços para enfrentá-los. A batalha final aconteceu em 20 de janeiro, dia de São Sebastião, no Outeiro da Glória. Os portugueses venceram, mas Estácio de Sá foi ferido no rosto e morreu um mês depois. Com a sua morte, Mem de Sá transfere a cidade da Vila Velha, no Cara de Cão, para o Morro do Descanso, depois conhecido como Morro do Castelo.

JEAN DE LÉRY

Jean de Léry e André de Thevet foram os responsáveis pelas primeiras referências sobre o pau-brasil em livro. Léry chegou ao Brasil em 1557, época em que Nicolau Durand de Villegaignon tentou desenvolver o projeto de estabelecer no Rio de Janeiro a 'França Antártica', uma colônia que serviria à exploração mercantil e abrigaria os protestantes perseguidos na França. No livro Viagem à Terra do Brasil, Jean de Léry documentou a incompreensão do nativo em relação à necessidade de acumulação de bens por parte dos colonizadores. 

Os índios não compreendem o mercantilismo

... Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros que se deram ao trabalho de ir buscar seu arabutã (pau-brasil). Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, mairs e perós (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como supunha ele, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com seus cordões de algodão e suas plumas.

Retrucou o velho imediatamente: E por ventura precisais de muito? - Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. - Ah!, retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhes dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? - Sim, disse eu, morre como os outros.

Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso, perguntou-me de novo: E quando morrem, pra quem fica o que deixam? - Para seus filhos, se os têm, respondi: na falta destes, para os irmãos ou parentes mais próximos. - Na verdade, continuou o velho, que , como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros mairs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem. Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

(Jean de Léry - Viagem à Terra do Brasil, 1557)

O Rio de Janeiro foi novamente invadido em 1710 e 1711 pelos corsários Jean Francois Du Clerc e Duguay-Trouin. Em 1710 os franceses foram derrotados, mas em 1711 impuseram enorme humilhação à cidade, sob o comando do corso francês Duguay-Trouin. Com 6000 homens em 17 navios ocuparam e saquearam a cidade do Rio de Janeiro, onde permanecem por 2 meses, trazendo horror e pânico aos locais. Depois de pilhar a cidade e afugentar a população para o interior, Duguay-Troin exigiu o pagamento de um resgate sob pena de destruí-la. O governador de então, Francisco de Castro, acabou pagando com seus próprios recursos parte do valor exigido, aconselhando o corso a levar todo ouro e riquezas que conseguisse amealhar em butim, alegando que a população levara consigo seus pertences de valor, tornando impossível arrecadar o resgate exigido.

O Corsário, ao contrário do Pirata, do ponto de vista do direito internacional, é um combatente regular, a quem o governo dava uma carta de corso. Poderia ser mantido diretamente pelo governo ou por um particular. Não há grande diferença dos piratas quanto aos métodos, porém, o corso reservava de 1/3 a 1/5 do amealhado para o tesouro real.

Em 11 de agosto de 1710 chegou à barra a esquadra do capitão-de-fragata francês Jean François Duclerc, e foram repelidos pelos portugueses. Em 16 de agosto houve nova tentativa, entre 8 e 9 horas da noite, com cinco naus que traziam o capitão Duclerc e suas tropas de invasão. No dia seguinte, em 17 de agosto, a esquadra de Duclerc, depois de trocar tiros com a Fortaleza de Santa Cruz, desiste de forçar a entrada da barra e ruma para a Ilha Grande, onde chegam no dia 27. Em 11 de setembro o capitão Duclerc desembarca com 1.050 homens em Guaratiba e toma o caminho da cidade, marchando por sete dias. Cruzou o que hoje são os bairros da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, atravessando montanhas e florestas. Após invadir a cidade pelos lados do atual bairro de Santa Tereza, chegaram na Praça do Carmo (atual Praça XV) em 19 de setembro. Nova batalha e Duclerc, com seus 600 homens restantes, renderam-se encurralados no trapiche da cidade. Em 21 de setembro os navios de Duclerc entregam-se por ordem de seu capitão, que foi mantido como prisioneiro de guerra na cidade.

Em 18 de março de 1711 o capitão Duclerc é assassinado em seu cárcere, uma confortável casa na Rua da Quitanda. A França, a pretexto de indignação com o ocorrido envia, sob o comando do almirante René Duguay Trouin, uma esquadra com 17 navios e 5.400 homens, que chega ao Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1711. Favorecida por forte nevoeiro penetra na cidade sem ser vista e vai ocupar com 500 homens a Ilha das Cobras. Logo após desembarcam 3.800 homens na praia de São Diogo e ocupam sem resistência os morros de São Diogo, da Providência , do Livramento e da Saúde. Em 20 de setembro às 11 horas da noite, depois do bombardeio da cidade pelas forças de Duguay Trouin, o governador Francisco de Castro Morais abandona a cidade e foge para o interior. Em meio a medonhas trovoadas e chuvas, a população também abandona a cidade em pânico. Em 23 de setembro a guarnição da Fortaleza de Santa Cruz rende-se às forças francesas. Em 10 de outubro ocorre a assinatura da convenção para pagamento de grande soma em dinheiro, pelo resgate da cidade; acordam o ato o almirante Duguay Trouin e o mestre de campo João de Paiva Souto Maior, representando do governador Francisco de Castro Morais. Em 11 de outubro chega à cidade uma tropa de 6.000 homens chefiada por Antonio Albuquerque Coelho de Carvalho, governador da capitania de São Paulo e Minas, que nada pode fazer em função do acordo assinado entre o governador Castro Morais e os invasores. Em 4 de novembro, após receber a última parcela do valor acordado, Duguay Trouin evacua a cidade. Em 13 de novembro as tropas francesas partem do Rio de Janeiro deixando para trás uma cidade totalmente devastada.

Sobre as invasões de 1710 e 1711 Brasil Gerson, em seu famoso livro "História das Ruas do Rio", relata:

"Rua da Quitanda - Ela é uma rua - a da Quitanda - que está ligada, bem de perto, a acontecimentos decisivos da nossa história, e a um crime famoso que teve profundas repercussões da nossa vida estudantil. Porto de desembarque para Portugal do ouro que descia das montanhas mineiras, o Rio passou a despertar, logo no começo do século XVIII, a cobiça de muita gente ávida de fácil enriquecimento. Esse o motivo que levou o Capitão de Fragata Duclerc a atacá-o em setembro de 1710, com sua poderosa esquadra. Temeroso de forçar as fortalezas costeiras, contornou-as por Guaratiba, vindo dali a pé, à frente de seus marinheiros. O ataque foi iniciado depois de um descanso no Engenho Velho dos jesuítas, e com inteiro êxito, a princípio, para os invasores, só repelidos na Rua Direita (ou 1º de março), em combates nos quais de destacaram os estudantes do Colégio da Sociedade de Jesus, do Morro do Castelo, os maiores dos quais eram organizados militarmente e estavam sob o comando do Capitão Bento do Amaral Coutinho, irmão do Capitão-Mor de São Paulo do clã dos Amaral Gurgel, descendente do francês Toussaint Gurgel e famoso aventureiro que, forçado a abandonar o Rio, se havia então imposto como duro e vingativo "sargento de batalha" dos emboabas contra mineradores paulistas em Minas - e, além desses estudantes, os escravos e os homens brancos recrutados por Gregório de Castro Morais, irmão do Governador, e pelo Frade Francisco de Menezes, não menos aventureiro que Bento, e de Minas escorraçado como concessionário do contrato da carne.

Refugiados na Alfândega, acabaram por se render, e no dia 19 seu comandante Duclerc foi levado preso para o Colégio e logo transferido para o Forte de São Sebastião, também no Morro do Castelo, e por último para a casa do Tenente Tomás Gomes da Silva, na esquina da Rua da Quitanda e da do Sabão (ou General Câmara, já demolida), à vista da Candelária - e nela sendo assassinado na noite de 18 de março de 1711 por quatro encapuçados.

Para vingá-lo e ver se levava o que ele não levou, outra frota francesa apareceu no Rio a 12 de setembro, ainda de 1711, dispondo de 750 peças de fogo, entrando a barra protegida por um grande nevoeiro, e sem que lhe pudesse oferecer maior resistência (diante da inércia do Governador Castro de Morais) os que se tinham oposto a ele, entre os quais o Sargento-mor de batalha Costa Ataíde, o Capitão-de-mar-e-guerra Gillet du Bocage (avô do poeta), o Coronel Manuel Correia Vasques e os capitães Manuel Gomes Barbosa e Bento do Amaral, este morto em combate, no dia 23, às margens da Lagoa da Sentinela, na confluência das ruas do Riachuelo (Mata-Cavalos) e Frei Caneca (Mata-Porcos).

O saque foi espantoso. Tudo quanto havia de valioso ao alcance de suas mãos eles transportaram para bordo: ouro da Casa dos Contos, açúcar e outras cargas dos trapiches, coisas belas das igrejas e das casas particulares. Arquivos foram remexidos e queimados. E para retirar-se, satisfeito e vingado, Duguay-Trouin, embora algo contido nos seus ímpetos pela mediação hábil dos padres, ainda exigiu que lhe dessem dinheiro, no valor de 616.000 cruzados - contados moeda por moeda, na Rua da Quitanda número 89, esquina da do Sabão.

Com os homens que lhe restariam, Costa Ataíde se retirou para o Engenho Novo, e aí encontraria o irmão de Bento do Amaral, o Capitão-mor de Paraty, Francisco Gurgel do Amaral, vindo do litoral de sua jurisdição com mais de 500 voluntários, para a expulsão do invasor. E a eles se juntando, por outro lado, o Governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, com mais de mil paulistas e emboabas já por eles apaziguados, numa marcha batida de 17 dias através do Caminho Novo, que Rodrigues Garcia Pais (o filho do Caçador de Esmeraldas) tinha aberto à sua custa entre Minas e o Rio, e concluído por volta de 1700. E eis por que, sabedor de que ele já se havia acampado em Irajá para recompor suas forças, o invasor saciado abandonaria seu plano de fixar a bandeira da França na terra carioca permanentemente, e zarparia, antes de ter de enfrentá-los, a Francisco do Amaral e a Albuquerque reunidos, e razão pela qual o povo do Rio aclamaria Albuquerque seu novo governador." 


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