Por Wilfried Berk
O mundo musical comemorou nos anos 70 o centenário de uma das mais genuínas manifestações da Música Popular Brasileira, o choro (ou chorinho), cujo patrono é Alfredo da Rocha Viana Jr., mais conhecido pelo seu pseudônimo, Pixinguinha (1897 - 1973).
Foi ele quem chamou a atenção para este gênero musical instrumental, que exige dos seus intérpretes um exímio técnico e uma boa dose de improvisação. Com seu grupo, "Os Oito Batutas", ele chegou a exportar o choro a Paris, em 1922, divulgando músicas de sua autoria e muitas outras mais de companheiros "chorões".
Entre seus grandes sucessos destacam-se " Carinhoso", "Ingênuo", "Modesto", "Ainda me recordo", "Um a Zero" as valsas "Rosa" e "Querendo bem". Sua obra é imensa, abrangendo dezenas de sambas, choros e revistas musicais. Sua contribuição sob o aspecto inovativo foi tamanha, que seu aniversário no dia 23 de abril foi declarado oficialmente como o "Dia Nacional do Choro".
Mas o Rio musical tem ainda outros nomes que firmaram o choro: Jacó do Bandolim com seu grupo "Época de Ouro" ("Noites Cariocas", "Doce de Coco"), Waldir Azevedo ("Brasileirinho", "Carioquinha"), Ernesto Nazaré ("Odeon", "Brejeiro"), Altamiro Carrilho, Abel Ferreira, Paulinho da Viola, Joel Nascimento, Déo Rian (que passou a liderar o "Época de Ouro" depois da morte de Jacó em 1969), Paulo Moura (com os novos "Oito Batutas"), Henrique Cazes - entre outros mais.
Sem o choro não existiria o grande Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), que em tenra infância já curtia o choro no "milieu" dos chorões, "humus" para seu posterior ciclo dos "14 Choros", considerados a "essência da alma brasileira".
Em 1963 a dupla Antonio Carlos Jobim/ Vinicius de Moraes lançaria a "Garota de Ipanema". Tom Jobim (" Choro pro Garoto", "Corcovado") tinha uma grande afeição por Pixinguinha ("Amor da minha vida, gênio querido e humano"). Sem o choro não existiria a bossa nova.
O choro é a espinha dorsal do instrumentista brasileiro. Choro é estado de espírito, reflete a malícia, o jeitinho do carioca. Tristeza & alegria caminham lado a lado de mãos dadas...
E o movimento do choro continua. O Rio de Janeiro criou seu Clube de Choro; excelentes representantes do choro (destaque: Zé da Velha e Silvério Pontes) atuam em várias casas do Rio (entre outras a Sala Funarte); o Museu da Imagem e do Som abre inscrição de concurso para incentivar compositores a escreverem para o Festival do Choro - Projeto Chorando no Rio; CDs focalizando o choro ("Café Brasil") chegam ao mercado europeu.
"O choro é nosso, ele merece ser propagado!" (Heitor Villa-Lobos). Outro carioca da gema.
Wilfried Berk, carioca, é músico erudito (clarinetista-chorão).
Vive há décadas na Alemanha, head do grupo 'Canto do Rio' (sede do choro em Hannover/ Alemanha).
O primeiro contato de Wilfried com o "Alma Carioca" aconteceu em 6 de maio de 2001:
Caro Paulo,
Parabéns pelo site que para mim é uma possibilídade de "visitar" meu Rio adorado, onde nasci.
Fui criado em Ipanema (Rua Barão da Torre 426, perto da Praça Nossa Senhora da Paz - na mesma rua em que moravam Tom Jobim e Carlinhos Lyra) há 60 anos. Há décadas vivo na Alemanha, mas mantenho acesa a velha chama, curtindo as coisas da terrinha. Saudade permanente. Grande abraço e obrigado,
Wilfried "Walfredo" Berk, carioca, clarinetista erudito e chorão.
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