O melhor do Rio de Janeiro est� aqui. Centenas de fotografias, o Rio antigo, cr�nicas, m�sica, bossa nova, MPB, sugest�es de passeios, a hist�ria do Rio de Janeiro desde a funda��o.


CONVERSANDO COM O MAR

J. Carino

Converso com o mar. Contemplando-o, de longe ou de perto, minh`alma se socorre desse poderoso interlocutor para purgar seus sofrimentos; meu corpo, seja no contato das �guas com a pele, seja no cheiro forte e inconfund�vel invadindo as narinas, entra em sintonia completa com esse aquoso amigo.

S�o conversas infind�veis, nas quais as palavras parecem mergulhar na massa l�quida e aumentar sua polissemia: o que digo e o que ou�o ampliam ao infinito seu significado.

Falo e escuto. As respostas v�m com not�vel nitidez. O marulhar das ondas, por mais forte que esteja, n�o interfere - a comunica��o se d� diretamente entre o �mago de meu ser e a pr�pria alma do mar.

Meu liquefeito amigo combina uma impressionante capacidade de ouvir com um extraordin�rio talento para falar. � uma voz com ricas modula��es: por vezes, um sussurro delicado; noutros momentos, um vozeir�o forte e imperativo.

Quase sempre, meu paciente amigo escuta em sil�ncio e aconselha com do�ura. Por�m, muitas vezes enfurece-se com minhas ang�stias e se mostra encapelado, lan�ando-me palavras furibundas e brilhos intensos que parecem um olhar fuzilante.

Outra forma encontrada pelo mar � falar-me aos olhos com a apar�ncia de suas �guas. H� dias em que se apresenta com um verde-esmeralda d�bio e indagador; noutros, um azul-marinho transmite a concilia��o e a paz; existem dias em que as �guas exibem uma cor escura e indefinida, entre um verde carregado e um azul profundo, e isso acontece quando s�o densos meus pensamentos e dolorosa minha lamenta��o. Nestes dias, o mar vai cambiando tamb�m o tom com que me fala: passa das reprimendas severas �s palavras de carinho.

Caminho ao longo da praia e meu amigo mar manda recado tamb�m por seus intermedi�rios. Uma mensagem de esperan�a pode vir do grasnar de uma ave marinha com sua silhueta delicada recortada contra um c�u saturado de azul. De um peixe prateado que salta posso receber um recado de condena��o � imobilidade e � conforma��o.

Os odores exalados pelo mar s�o igualmente eloq�entes: a maresia forte parece obrigar a uma concentra��o mais intensa em face dos problemas que me afligem; um cheiro agridoce diz-me mais sobre coisas felizes, males sanados, feridas cicatrizadas.

� riqu�ssima a express�o do mar em seus movimentos. Ondas fortes quebram com viol�ncia, traduzindo a veem�ncia desse meu poderoso amigo; as marolas suaves significam uma voz paciente que busca a amig�vel persuas�o; borrifos que espalham cristais de �gua e luz talvez signifiquem a riqueza da adjetiva��o.

�s vezes, numa �nsia comunicativa, o mar chega a tocar-me. Acontece quando, pr�ximo � �gua, caminho cabisbaixo, ensimesmado. Ent�o, uma onda mais forte lan�a-se num generoso suic�dio contra as pedras, e gotas espalhadas pelo ar, depois desse po�tico sacrif�cio, caem sobre meu corpo e me restituem a sensa��o de estar vivo.

Um dos momentos mais intensos em nossos di�logos acontece quando me rendo � vontade de uma entrega total a um abra�o amigo, lan�ando-me �s �guas benfazejas. Meu corpo e minha alma se fundem com a alma do mar. Por vezes, bracejo, como hesitando em fundir-me com o esp�rito do mar, como temendo a �ltima fuga em dire��o �s profundezas, onde a comunica��o poder� ser total ou um sil�ncio absoluto reinar para sempre; em outros momentos, flutuo sobre as ondas, deixando-me levar, amparado pelos bra�os com vigor tanto poderoso quanto liquefeito. Na pele, sinto a car�cia das �guas, aconchegante ref�gio.

Converso com o mar. E n�o h� nessas conversas a insinceridade da maioria das conversas humanas; n�o h� hipocrisia e subterf�gios.

Quando me despe�o e me afasto, o mar ainda me fala ao longe, como a desvelar-se em prote��o. Meus ouvidos parecem transformar-se, ent�o, em conchas, nas quais reverberam - e talvez para sempre - as palavras do mar, numa linguagem que �s vezes � clara, altissonante, incisiva, e noutras � amb�gua, sussurrante e at� suplicante. Por�m, sempre, inegavelmente amigas.

Voltar ao topo da p�gina
Volta ao in�cio desta p�gina
P�gina inicial do ALMA CARIOCA
Voltar �s Cr�nicas
Retorna � p�gina anterior

Se��es:
Rio de Janeiro
Turismo no Brasil e Viagens Nacionais
Turismo e Viagens Internacionais
Esportes
Olimp�adas Rio 2016 - Jogos Ol�mpicos e Paraol�mpicos
Copa do Mundo Brasil 2014
V�deos musicais nacionais
V�deos musicais internacionais
V�deos clips de m�sicas cl�ssicas
Clipes musicais de filmes e trilhas sonoras
V�deos de m�sicas rom�nticas internacionais e nacionais
Desenhos animados antigos da tv
Seriados antigos da tv
Trailers de filmes
Trailers de filmes cl�ssicos de maiores bilheterias
Restaurantes, receitas e gastronomia
Cr�nicas
Arraial do Cabo
Araruama
Cabo Frio
Arma��o dos B�zios
Saquarema
Compras em Orlando
Pontos tur�sticos de Buenos Aires
Lisboa - Pontos tur�sticos
Roma - Pontos tur�sticos
Londres - Turismo e Pontos tur�sticos
Bossa Nova
Rio Antigo
Hist�ria Geral
Hist�ria do Brasil
Geografia, Biomas brasileiros e ecossistemas
Artistas e celebridades
Pol�tica de Privacidade
� 2001-2010 - Copacabana Internet
Fale conosco