Toda viagem costuma ter uma pitada de aventura, seja em maior ou menor escala. Comum ocorrer algo inesperado ou mesmo inusitado e se, a princípio, pode parecer uma dor de cabeça, os imprevistos podem tornar sua viagem mais emocionante e fazer da mesma inesquecível.
Saindo de Dublin, na Irlanda, com destino a
Riga na Letônia - a mais cosmopolita das capitais dos países bálticos – o autor da matéria vai abordar uma viagem recente por uma região belíssima da Europa, culminando com a chegada na Rússia, país grande não
somente em extensão, mas com muitos atrativos e uma história riquíssima.
A viagem teve início no aeroporto de Dublin, localizado
a pouco mais de 10 quilômetros do centro da cidade e que teve a inauguração do seu novo terminal (terminal 2) em 2011, possibilitando receber um número maior de vôos, dos mais variados países mundo afora.

Saída do aerporto de Riga. Chegada na capital da Letônia
O vôo da Ryanair saiu da capital da Irlanda ás 06:45 da manhã de uma sexta-feira de janeiro, chegando em Riga, capital da Letônia, ás 11:50, 09:50 em Dublin (a diferença do fuso horário entre os dois países é de duas horas). Com muita neve ao redor da pista, foi fácil notar que o frio era intenso (
emperatura entre -7,-8). Após 20 minutos na linha 22 do ônibus que liga o aeroporto até o centro histórico da cidade, cheguei no local que é o ponto turístico mais visitado de Riga, atraindo cada vez mais, gente de todas as partes do mundo. Impossível não se encantar com cada detalhe da parte antiga da cidade.

Riga mistura história, natureza e modernidade
Riga é uma cidade bonita, com muitos parques, uma rica história (mais de 800 anos) e ao mesmo tempo moderna.

Avenidas largas são uma constante em Riga
Amplas avenidas são uma constante em Riga. O trânsito costuma fluir tranquilamente durante a maior parte do dia, tendo um
sistema de transporte eficiente e que atende satisfatoriamente aos moradores e a quem a visita.

Riga International Bus Station, deixando a capital da Letônia, com destino a Tallin, Capital da Estônia
Já com o tempo chuvoso e o frio mais intenso, cheguei a Riga International Bus station por volta das 19:30, já que
em uma hora pegaria o ônibus com destino a outra cidade dos países bálticos
(Tallin, na Estônia). Passar oito horas e meia nesta cidade foi suficiente para ter certeza que ela merece pelo menos dois dias dedicados a conhecê-la melhor. Incluí-la no seu próximo roteiro pela Europa é mais do que indicado.
Às 20:30 pontualmente, o ônibus da Lux Express deixava Riga com destino
a Tallin e após quatro horas e vinte minutos chegamos na capital da Estônia. Uma viagem agradável, com belas paisagens onde predominava muita neve e pequenas cidades.
A primeira aventura: rodoviária fechada,
neve e um cantor

Tallin Bus Station
Exatamente aos 50 minutos do sábado (00:50), numa pontualidade britânica, o ônibus chegava na Tallin Bus Station. Já tinha conhecimento desde do início da viagem que horas de espera, marcariam esse “tour” pelos países bálticos e Rússia (decidi a viagem em cima da hora e tive que conviver com os transportes e horários existentes, além da falta de vagas em hotéis da cidade), mas tranquilo, afinal, o motivo principal era mais do que justificável (histórias de amor, não fazem parte dos temas abordados pelo Alma Carioca).
Apesar de consciente, não contava em encontrar a rodoviária fechada a partir de 1 hora da manhã e acompanhado de um casal, tive que sair da sala confortável e bem aquecida, cinco minutos após entrar na mesma. O pior foi a forma como fomos convidados a sair do local. O segurança não foi nada educado, apontando apenas o caminho da saída. Obviamente que foi retrucado por nós três, antes de deixarmos o local. Restava agora, pensar numa alternativa, para não conviver com um frio de menos 5 graus e uma neve constante.
Pensei que facilmente iria resolver a situação, pois uma ida a um bar, seria uma boa saída para esperar até próximo das 4 horas da manhã, quando a estação rodoviária seria reaberta. Logo fui desencorajado pelo taxista que mantive contato. O simpático motorista informou que a partir de duas horas, todos os bares e restaurantes da cidade estariam
fechados. A partir daí, começa uma espera de três horas, que diante do frio intenso acompanhado de neve, parecia ter sido o dobro do tempo.
Após me deparar com a realidade, procurei o lugar “mais aconchegante“ para lidar com tal situação. Próximo da porta principal de acesso á rodoviária, havia bancos e por ser uma área coberta, seria o melhor local para passar o tempo. Para minha surpresa, um mendigo se aproxima e na língua local, começa a tentar um diálogo, que obviamente não entendi nada. Decidi usar o inglês, mas o senhor de cerca de 65, 70 anos e com forte cheiro de álcool nada entendeu, inviabilizando qualquer comunicação.
Conforme os minutos passavam, o frio aumentava e decidi caminhar de uma lado para o outro, a fim de aquecer o máximo possível. Notei que próximo da porta principal, havia um local mais iluminado e consequentemente menos frio e decido ali esperar o tempo passar, mesmo que de pé. Enquanto isso, o senhor, distante cerca de 100 metros, começa a cantar. Por ter um conhecimento da área, percebi se tratar de um profissional ou com talento para tal, diante da qualidade de sua voz, mesmo na situação que se encontrava. A voz era de fato muito boa, mas infelizmente, por algum motivo, encontrava-se naquela situação. Lamentável constatar aquela realidade.
O tempo demorou a passar, mas finalmente às quatro horas, o mesmo segurança que grosseiramente “tinha convidado” a deixar uma das salas da rodoviária,
abre o portão da entrada principal e junto com algumas pessoas que chegaram minutos antes, entro e procuro logo um lugar para me acomodar e descansar. Três horas que pareceram uma noite inteira.
Conhecendo Tallin

Tallin é uma cidade com amplas avenidas
Como a continuação da viagem até São Petersburgo
(já na Rússia), também seria feita de ônibus e apenas às 3:45 da tarde, tinha um tempo razoável para conhecer a cidade. Por volta das nove horas e após pegar algumas informações com uma simpática funcionária do setor de informações da rodoviária, me dirigi até o centro da cidade, distante cerca de dois quilômetros dali, percorrendo a avenida principal da cidade, ampla e assim como Riga, com um bom serviço de elétricos.

Uma cidade com um mix de história e modernidade
Tallin está localizada no golfo da Finlândia,
na costa norte do país, junto ao mar Báltico, a 80 quilômetros sul de Helsínque. Sua população é de aproximadamente 400.000 mil habitantes. A cidade é cercada pela arquitetura russa que herdou dos tempos do domínio desse país. Ainda assim, podemos encontrar prédios mais novos, especialmente de empresas, localizadas na parte central da cidade.

Na Estação rodoviária de Tallin, embarcando para São Petersburgo (pouco mais de 6 horas de viagem)
Retornando á Estação Rodoviária de Tallin, aguardei mais alguns minutos e
às 15:45 peguei o ônibus para São Petersburgo. Uma viagem de pouco mais de seis horas.

Durante toda a viagem, o cenário é sempre com muita neve
Durante toda a viagem, um cenário com muita
neve. Conforme íamos nos aproximando da Rússia, a temperatura caía um pouco mais.

Na cidade de Narva (Estônia) se aproximando da fronteira com a Rússia
Com cerca de três horas e meia de viagem, chegamos em Narva, cidade que faz fronteira com a Rússia (Ivangorod).

Após passar pela burocracia do lado da Estônia, o ônibus estaciona e mais burocracia, desta vez, do lado russo - bem mais tranquila
Ao chegarmos na fronteira, a primeira de duas esperas consideráveis. Ainda no lado da Estônia, o ônibus estaciona e um policial com cara de poucos amigos recolhe o passaporte de todos os passageiros, sem antes olhar atentamente em nossa direção e em seguida para o passaporte. Aproximadamente 20 minutos mais tarde, outro policial (neste caso, uma mulher) retorna com todos os passaportes devidamente carimbados com o visto de saída da Estônia.
Em seguida, o ônibus segue por mais 100 metros e já no lado russo, estaciona e o motorista avisa para descermos com o passaporte e recolher nossa bagagem no bagageiro, a fim de passar pela fiscalização russa. Uma fila se forma em dois guichês, um cão fareja mala por mala, num procedimento de praxe a fim de checarem se alguém transporta algo ilegal, como drogas. Queira ou não e por mais experiência que se tenha em viagens, esse tipo de situação nunca é agradável, pois você sabe que todos ali desconfiam de você. Para finalizar, um funcionário confere seu passaporte e dá o carimbo de visto de entrada na Rússia. Voltamos para o ônibus e seguimos viagem.

Já no ônibus (em Ivangorod, Rússia) após quase 1 hora para passar pela fronteira dos dois países
No total, foram 45 minutos de espera para passar pelos trâmites normais das fronteiras. De Ivangorod (lado russo da fronteira) até
São Petersburgo, seriam mais duas horas de viagem e uma diferença perceptível foi que a qualidade das estradas russas não acompanhavam a da Estônia e da Letônia.

Aproximando da Estação rodoviária de São Petersburgo
Finalmente, após exatas seis horas e vinte minutos, chegamos a bela e imponente
São Petersburgo. A cidade chama a atenção por uma característica bem russa: Prédios e monumentos grandiosos.

Aeroporto de São Petersburgo
Ao contrário dos países bálticos, onde boa parte da população domina o inglês, na Rússia, mesmo nas cidades grandes, segundo um rapaz que veio ao meu lado no ônibus informou, a maior parte da população não tem conhecimento da língua, por pura falta de interesse. Na hora do aperto, todos se viram, mas não é nada agradável passar por uma situação dessas. Ciente da informação passada pelo russo, pedi para o mesmo solicitar um táxi para mim, já que iria para o aeroporto da
cidade, onde pegaria o vôo para Taganrog, no sul do país, destino principal da viagem. Aos 20 minutos do domingo (00:20), apenas 10 minutos após ter chegado em
São Petersburgo, o táxi chegou no terminal rodoviário e por vias das dúvidas, pedi para o rapaz russo confirmar tudo com o motorista, a fim de evitar problemas, tais como cobrar a mais do que informou. Tudo confirmado, entrei no táxi e seguimos para o aeroporto que ficava apenas 10, 12 minutos do local que nos encontrávamos.
Futebol, samba e linguagem de sinais
Com poucos segundos no táxi, tive conhecimento que o motorista também não falava inglês e que a comunicação seria complicada, mas nada demais, afinal, o importante seria me deixar no aeroporto.
Entretanto, através de gestos e uma ou outra palavra em inglês, o motorista que descobrir ser do Azerbaijão, ex-membro da ex-União soviética, tentou saber qual a minha origem. Ao afirmar que era brasileiro, logo disse: “Brasil, Ronaldo, Neymar, samba...”. Ao mesmo tempo, se mostrou perplexo por um brasileiro estar visitando a Rússia. Foi a comunicação possível e ainda ajudada pelas poucas palavras em russo que falava na época (não que já fale o básico bem, mas melhorou de lá para cá).
Chegamos no aeroporto de St. Peterbursg por volta de meia-noite e trinta. Dei uma conferida no aeroporto e tratei de comer algo, antes de sentar em algum lugar próxima da área de alimentação e descansar um pouco, afinal, o vôo para
Rostov, cidade colada a Taganrog, sul da Rússia e motivo maior desta viagem, seria
às 11:50 da manhã.

Aeroporto de Rostov
Após duas horas e vinte minutos, chegamos em Rostov. De lá para
Taganrog, aproximadamente 50 minutos de carro. A neve que tinha dado uma trégua durante alguns dias, voltou a cair de forma mais intensa, justamente horas antes, possibilitando um cenário muito bonito em toda região.

Chegando em Taganrog, próximo do Congress Hotel
Umas das avenidas principais de Taganrog, já nas proximidades do Congress Hotel. Taganrog é uma cidade com 300 mil habitantes e possui um porto de grande importância na história da Rússia. A cidade é terra do famoso dramaturgo e escritor Anton Tchekhov.

Taganrog é uma cidade muito agradável e organizada
Nesta época do ano como em todo o país, o cenário é digno de um típico filme de natal. Taganrog possui inúmeros bares, restaurantes,
danceterias, parques e o mar de Azov é outra atração.
Essa viagem iniciada em Dublin, passando pela região dos países Bálticos até chegar na Rússia, é uma sugestão que pessoalmente recomendo. A beleza de todos os lugares visitados, o contato com culturas distintas, é mais do que gratificante.
O Alma Carioca abordará futuramente, os detalhes de cada cidade visitada, apresentando aspectos desses lugares que farão os turistas incluírem esse roteiro em futuras viagens pelo continente europeu.
Saiba mais:
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Créditos:
Matéria de Antônio Júnior com exclusividade para o site Alma Carioca
* Antônio Júnior, jornalista, é nosso correspondente em DUBLIN/Irlanda.
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