NEI (Braz) LOPES, autor e int�rprete de m�sica popular, nasceu no sub�rbio de Iraj�, Rio de Janeiro, em 9 de maio de 1942.

Bacharel pela Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil, no in�cio dos anos 70 abandonou a rec�m-iniciada carreira de advogado para dedicar-se � m�sica e � literatura.

Compositor profissional desde 1972, notabilizou-se principalmente pela parceria com Wilson Moreira e pela obra gravada por quase todos os grandes int�rpretes do samba tradicional.

Nos anos 80 foi um dos impulsionadores, como pr�tico e te�rico, do chamado "pagode de fundo de quintal", que levou de novo o samba, com nova roupagem, �s paradas de sucesso.



O vendedor de ilus�es

Nei Lopes

Em 2001 publicou "Guimbaustrilho e outros mist�rios suburbanos". O delicioso livro, publicado pela Dantes Editora e Livraria Ltda em parceria com a Prefeitura do Rio e P�ginas Amarelas, custa apenas R$ 10,00 e ainda oferece um CD com tr�s faixas. Uma delas � a que ilustra essa p�gina e mostra, aos que n�o conhecem, todo o valor do Nei Lopes.

"Lendo o livro estaremos viajando com Nei pelos trilhos do Rio numa viagem t�o atemporal quanto bem-humorada. Iremos da Central � Baixada e � Zona Oeste. Percorreremos os bairros bacanas da Zona Norte. Visitaremos lugares, hist�ria, costumes, tradi��es e personagens dessas outras margens do Rio. Desse Rio que escorre seu samba, sua macumba, sua cultura entre os trilhos da Central, da Leopoldina e do Metr�. Trilhos �s vezes de asfalto, chamados Brasil, Autom�vel Clube, Suburbana ou Rio-S�o Paulo. Trilhos esses que muitos bondes tamb�m j� cruzaram. E onde o Guimbaustrilho tamb�m fez muito sucesso. "


Trecho de "GUIMBAUSTRILHO e outros mist�rios suburbanos"

 

Vamos dar uma volta pelos arredores da Central.

Aquele morro ali � o morro da Provid�ncia, mais conhecido, antes, como "morro da Favela".

Favela, como voc�s sabem, � todo n�cleo habitacional surgido desordenadamente, em terreno p�blico, de dom�nio n�o definido ou mesmo alheio, localizado em �rea sem urbaniza��o ou melhoramentos. O termo chegou ao Rio no s�culo 19, para denominar exatamente uma parte do morro da Provid�ncia, por semelhan�a com um "morro da Favela", existente no interior da Bahia, de onde vieram, ap�s a Guerra dos Canudos, em 1897, alguns dos primeiros povoadores. Esse n�cleo pioneiro tornou-se um forte p�lo irradiador da cultura negra, da mesma forma que outras "favelas"  que se foram formando no Rio, no maci�o da Tijuca, em dire��o aos sub�rbios, � Baixada Fluminense e � Zona Oeste da cidade, com fam�lias emigradas, principalmente, do norte do Estado e do Vale do Para�ba. Hoje, a predomin�ncia de fam�lias negras parece se verificar apenas nos n�cleos mais antigos, como os morros de Mangueira, do Salgueiro, do Formiga, do Turano, do Borel e da Serrinha. Observem o leitor e a leitora que Salgueiro, Turano e Formiga s�o sobrenomes de antigos propriet�rios ou posseiros daquelas terras. E que Borel foi o nome de uma f�brica de cigarros que se instalou no local.

Mas o fato � que, com rela��o �s favelas de hoje, aquele papo de "barrac�o de zinco, sem telhado, sem pintura, l� no morro" ou "conjunto de habita��es populares toscamente constru�das" � coisa do passado. Hoje, os milh�es de moradores dessas comunidades cariocas v�m trocando as t�buas velhas, o sopapo e o zinco pelas casas de alvenaria com lajes de concreto, esquadrias de alum�nio e outras melhorias. E � claro que, vista de uma casa assim, a Presidente Vargas, aqui em baixo, fica mais bonita. Quer ver s�? Canta comigo:

Salve o estadista, idealista e realizador!

Get�lio Vargas, o grande presidente de valo-o-or!

Este samba � do meu saudoso compadre Osvaldo Vitalino de Oliveira, o Padeirinho da Mangueira, um dos maiores estilistas do samba sincopado e malandreado. E foi o enredo da verde-rosa em 1956, doze anos depois da inaugura��o da avenida e trinta e um anos antes do Compadre Padeiro cantar para subir.

No dia 7 de setembro de 1944, o presidente Get�lio Dorneles Vargas inaugurou a nova avenida, depois da demoli��o de 525 casas, muitas cr�ticas e transtornos causados ao povo. A obra foi considerada "fara�nica, mirabolante, grandiosa demais e perfeitamente dispens�vel".

O projeto original estabelecia a cria��o de uma zona comercial entre a Candel�ria e a Pra�a da Rep�blica e, a partir da�, at� a Pra�a da Bandeira, a avenida seria exclusivamente residencial.

Dentre os pr�dios demolidos estavam as igrejas de S�o Domingos, S�o Pedro, Bom Jesus do Calv�rio e Nossa Senhora da Concei��o; o antigo pr�dio da Prefeitura; alguns bancos; e um mercado p�blico. Mas foi a destrui��o da Pra�a 11 que mais provocou rea��es, principalmente por parte da m�sica popular, como naquele samba de Herivelto e Grande Otelo:

V�o acabar com a Pra�a Onze

n�o vai haver mais escola de samba, n�o vai...

Mas olha s�! Esta era a Pra�a Onze t�o querida! - como dizia a marcha-rancho de Chico An�sio e Jo�o Roberto Kelly. Aqui o couro comia, merm�o! Pois aqui era como a Congo Square em New Orleans, o centro do carnaval das popula��es negras do Rio de Janeiro. Aqui se exibiam, dos anos de 1930 aos de 1950, as escolas de samba e os ranchos carnavalescos; e confraternizavam-se ou se confrontavam, nas rodas de batucada e pernada, os sambistas descidos dos morros e sub�rbios.

Pra�a 11 - Foto de Augusto Malta

Fonte dos dados biogr�ficos:  www.samba-choro.com.br

Fotografia de Nei Lopes: Projeto Releituras ( www.releituras.com )

Fotografia da Pra�a Onze de Junho: Augusto Malta