|
Vamos dar
uma volta pelos arredores da Central.
Aquele morro ali � o
morro da Provid�ncia, mais conhecido, antes, como "morro da
Favela".
Favela, como voc�s
sabem, � todo n�cleo habitacional surgido desordenadamente, em terreno
p�blico, de dom�nio n�o definido ou mesmo alheio, localizado em �rea
sem urbaniza��o ou melhoramentos. O termo chegou ao Rio no s�culo 19,
para denominar exatamente uma parte do morro da Provid�ncia, por
semelhan�a com um "morro da Favela", existente no interior da
Bahia, de onde vieram, ap�s a Guerra dos Canudos, em 1897, alguns dos
primeiros povoadores. Esse n�cleo pioneiro tornou-se um forte p�lo
irradiador da cultura negra, da mesma forma que outras
"favelas" que se foram formando no Rio, no maci�o da
Tijuca, em dire��o aos sub�rbios, � Baixada Fluminense e � Zona Oeste
da cidade, com fam�lias emigradas, principalmente, do norte do Estado e
do Vale do Para�ba. Hoje, a predomin�ncia de fam�lias negras parece se
verificar apenas nos n�cleos mais antigos, como os morros de Mangueira,
do Salgueiro, do Formiga, do Turano, do Borel e da Serrinha. Observem o
leitor e a leitora que Salgueiro, Turano e Formiga s�o sobrenomes de
antigos propriet�rios ou posseiros daquelas terras. E que Borel foi o
nome de uma f�brica de cigarros que se instalou no local.
Mas o fato � que, com
rela��o �s favelas de hoje, aquele papo de "barrac�o de zinco,
sem telhado, sem pintura, l� no morro" ou "conjunto de
habita��es populares toscamente constru�das" � coisa do passado.
Hoje, os milh�es de moradores dessas comunidades cariocas v�m trocando
as t�buas velhas, o sopapo e o zinco pelas casas de alvenaria com lajes de
concreto, esquadrias de alum�nio e outras melhorias. E � claro que,
vista de uma casa assim, a Presidente Vargas, aqui em baixo, fica mais
bonita. Quer ver s�? Canta comigo:
Salve o estadista,
idealista e realizador!
Get�lio Vargas, o
grande presidente de valo-o-or!
Este samba � do meu
saudoso compadre Osvaldo Vitalino de Oliveira, o Padeirinho da Mangueira,
um dos maiores estilistas do samba sincopado e malandreado. E foi o enredo
da verde-rosa em 1956, doze anos depois da inaugura��o da avenida e
trinta e um anos antes do Compadre Padeiro cantar para subir.
No dia 7 de setembro de
1944, o presidente Get�lio Dorneles Vargas inaugurou a nova avenida,
depois da demoli��o de 525 casas, muitas cr�ticas e transtornos
causados ao povo. A obra foi considerada "fara�nica, mirabolante,
grandiosa demais e perfeitamente dispens�vel".
O projeto original
estabelecia a cria��o de uma zona comercial entre a Candel�ria e a
Pra�a da Rep�blica e, a partir da�, at� a Pra�a da Bandeira, a
avenida seria exclusivamente residencial.
Dentre os pr�dios
demolidos estavam as igrejas de S�o Domingos, S�o Pedro, Bom Jesus do
Calv�rio e Nossa Senhora da Concei��o; o antigo pr�dio da Prefeitura;
alguns bancos; e um mercado p�blico. Mas foi a destrui��o da Pra�a 11
que mais provocou rea��es, principalmente por parte da m�sica popular,
como naquele samba de Herivelto e Grande Otelo:
V�o acabar com a
Pra�a Onze
n�o vai haver mais
escola de samba, n�o vai...
Mas olha s�! Esta era a
Pra�a Onze t�o querida! - como dizia a marcha-rancho de Chico An�sio e
Jo�o Roberto Kelly. Aqui o couro comia, merm�o! Pois aqui era como a
Congo Square em New Orleans, o centro do carnaval das popula��es negras
do Rio de Janeiro. Aqui se exibiam, dos anos de 1930 aos de 1950, as
escolas de samba e os ranchos carnavalescos; e confraternizavam-se ou se
confrontavam, nas rodas de batucada e pernada, os sambistas descidos dos
morros e sub�rbios.
 |