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Peguei o
pr�dio ainda de p�, l� pela d�cada de 1930. Hoje, s� em fotografias.
Tenho o registro dos cassinos do Copacabana Palace, o
Atl�ntico, no Posto 6, em Copacabana, onde, mais tarde, na TV RIO,
estaria produzindo programas para J.Silvestre e Maninha, e o da Urca, que
veio a abrigar a TV-Tupi, onde tive longa atua��o como produtor de
programas para J.Silvestre, Fl�vio Cavalcanti, Paulo Max, Haroldo de
Andrade, Paulo Giovanni, Mauro Montalv�o e tantos outros.
Vi o 'Cassino
da Urca' funcionando, quando ocupava todas as depend�ncias do
enorme pr�dio da Rua Jo�o Luiz Alves. Este, ali�s, foi o maior de
todos, projetando-se na hist�ria pela realiza��o de maravilhosos shows
em seu grill-room. No palco da Urca ter� acontecido, sem d�vida, a mais
extraordin�ria seq��ncia de espet�culos art�sticos. Por l� estiveram
celebridades internacionais, como Bing Crosby, Jean Sablon, Martha Eggerth,
Pedro Vargas, Carmen Miranda, Toni Bennett, Edith Piaf, Am�lia Rodrigues... Havia grandes orquestras, como a titular, de Carlos
Machado, com o iniciante Dick Farney como crooner, e o fant�stico
Russo do Pandeiro. Vale ainda fazer refer�ncia a D�o Maia, cantora negra
de enorme sucesso, Grande Otelo, �s jovens Emilinha Borba, Linda e
Dircinha Batista e Heleninha Costa. O palco do Cassino da Urca tinha
sempre para seu p�blico momentos maravilhosos para compor sua car�ssima
e sempre atraente programa��o. Isso sem falar nos m�sicos,
malabaristas, acrobatas, ilusionistas, instrumentistas de renome no
exterior, contratados a peso de ouro para manter o alto n�vel do que se
poderia ver no lend�rio palco.
Em 1945
Getulio Vargas ca�a. Era o fim do Estado Novo. Elei��es. Dutra, apoiado
por Get�lio, vence o Brigadeiro Eduardo Gomes e assume a Presid�ncia da
Rep�blica. Na campanha eleitoral, faixas em volta do pr�dio do Hotel
Quitandinha, em Petr�polis, alertavam para a possibilidade da vit�ria de
Eduardo Gomes, cat�lico praticante, homem austero, conservador, de
profunda forma��o moral. Admitia-se que, vencedor, acabaria com os
cassinos e jogos de azar. J� do Dutra n�o se tinha a mesma imagem, a
mesma concep��o. Dutra venceu. Pouco depois da posse assinava decreto
extinguindo a pr�tica de jogos de azar em todo o pa�s. Foi uma bomba! O
mundo fant�stico do Quitandinha desabou, veio abaixo! Desemprego em
massa, chefes de fam�lia desarvorados, l�grimas, desola��o, tristeza.
Trag�dia social de dimens�es abissais. Not�cias de suic�dio! O
Quitandinha fora reduzido a cinzas e, desde ent�o, vem cumprindo uma
senda absolutamente diversa daquela que inspirou sua cria��o, que era
seu verdadeiro destino: cassino. Na imensid�o dos sal�es, salas,
jardins, galerias, corredores, boites, teatros, varandas, tudo, s�
fantasmas e fantasmas."
E
Miranda conclui:
"Quitandinha
tem de voltar � sua origem, como c�lula propulsora de atividades
m�ltiplas, geradoras de trabalho, emprego, impostos. Um fabuloso mercado
de a��es que render� somas incalcul�veis aos cofres p�blicos.
Dinheiro que, em parte, dever� ser encaminhado para a solu��o de
problemas de ordem social, com �nfase para o grav�ssimo item FOME, que
atinge 54 milh�es de brasileiros. Amigos de hoje, voc�s n�o podem
imaginar Quitandinha no auge. Gente e mais gente trabalhando. Gente
absolutamente feliz. O leque cobria todas as atividades profissionais. No
quadro de pessoal sempre havia lugar para mais um.
O
decreto de Dutra ainda � vigente. O jogo de azar ainda est� proibido.
Mas joga-se de tudo neste pa�s. O jogo do bicho est� em todas as
esquinas. Meu velho amigo Silvio Santos est� a� com seu celebrado Ba�
da Felicidade. A Caixa Econ�mica banca tudo: Megas, Duplas, Quinas, Super
X; o Estado promete mundos e fundos com as Raspadinhas, as Quinas do
Milh�o, os Totobolas. Os Bingos, o que s�o, sen�o cassinos?
Dona
Santinha, mulher de Dutra, que dizem ter sido a respons�vel pela
decis�o, l� do c�u, onde est�, j� deve ter mudado de opini�o
mesmo porque, se ela considerava o cassino uma desgra�a, � bom lembrar
aquela velha senten�a francesa que diz: A quelque chose malheur est
bon (A desgra�a serve para alguma coisa, pode produzir algum benef�cio).
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