Edi��o de 01-jan-2004

 

Passagem do ano em Copacabana - Foto de J. Conde


Desejamos aos nossos leitores um FELIZ 2004!

 

C H A M A   A C E S A 

 
  Cl�udio Jorge

� pensando em todos os brasileiros, amantes da cultura de sua terra, que escrevo este texto falando de uma roda de Samba que conheci em Santo Amaro, S�o Paulo. Dedico este texto a estes brasileiros que, como eu, vivem a ang�stia do retrato atual da nossa realidade cultural. Depois desta noite, sempre que me referir a este assunto, falarei em cultura brasileira "aparentemente" amea�ada. 

Digo "aparentemente" por conta do que eu vi no "Samba da Vela". Foi animador. Um sopro de felicidade, prazer, esperan�a, alegria, amizade, uma emo��o muito especial enfim.

Ent�o, caro leitor, imagine atrav�s destas mal tra�adas linhas o lugar e o fato que eu vou lhes contar. Vamos nessa.

Segunda feira, 20 horas. Sal�o central do Centro Cultural de Santo Amaro, S�o Paulo. Quando se chega perto j� se ouve as vozes de homens e mulheres cantando um Samba. Cheguei na portaria curioso e animado, pronto para descolar logo uma latinha e cair dentro da roda. Na portaria, uma contribui��o de R$2,00 para ajudar na produ��o, d� direito a um caderno cheio de letras de m�sica. Dou uma olhada r�pida, n�o entendo o prop�sito do caderno e vou em frente. A� o primeiro choque. Cerca de duzentas pessoas em p� ou sentadas em torno de uma mesa e uma vela acesa. Chapinha, os garotos do Quinteto em Branco e Preto e outros m�sicos tocavam e cantavam. A cada momento era chamada uma pessoa para cantar seu Samba. A�, meus amigos, a ficha come�ou a cair e o bicho pegou.

Os caras se encontram para cantar Sambas in�ditos. Samba carimbado pelo sucesso n�o vale. No caderno, que � editado uma vez por m�s, est�o os Sambas que tiveram mais aceita��o pelo p�blico nas semanas anteriores. Todos cantam e aplaudem muito no final. Emocionante. O n�vel dos Sambas � alto e a faixa et�ria m�dia � abaixo dos 30 anos. Enquanto a vela estiver acessa o Samba n�o p�ra e, dependendo do clima, que pra minha sorte esteve especial naquele dia, o Samba seguiu mesmo com a vela apagada.

Fui gentilmente convidado a dar uma canja e quase chorei ao sentir a confirma��o do que vi escrito numa faixa ao alto: "O sil�ncio � uma ora��o". A aten��o para o que � cantado � total na primeira vez do Samba. "Na volta", j� rola at� um coro e palmas e, se o Samba for daqueles, o pessoal levanta das cadeiras e sacode a poeira. Para completar, n�o h� sistema de som, nem servi�o de bar. Apenas um pequeno gravador ao lado da vela que serve para gravar os encontros. Se existe um templo do Samba � l� no "Samba da Vela". Inacredit�vel. Emocionante. Maravilhoso. E como n�o podia deixar de ser, invej�vel.

Sa�mos de l� depois da meia-noite e a grande maioria se manda para pegar o �ltimo �nibus para os seus destinos. Os motorizados ou os que perderam a condu��o, se concentram no bar em frente e a� tudo recome�a, s� que regado a cervejas e vale cantar o que quiser.

Foi um grande presente de Natal que ganhei do Mano Heitor, parente do Martinho da Vila, que l� me levou. Foi a confirma��o de tudo que sempre achei e l� encontrei. H� uma grande juventude brasileira envolvida com a cria��o e divulga��o do samba brasileiro. H� um Brasil que n�o aparece no r�dio nem na TV. H� uma chama acesa que nunca vai se apagar. � a chama da alma de uma juventude que fala portugu�s, toca tambor, cavaco e viol�o, canta e comp�e num estilo altamente sofisticado musical e poeticamente falando.

O que eu vi l� em S�o Paulo foi uma verdadeira manifesta��o cultural que tem o "Samba" como objetivo principal. E mais, uma oportunidade que deveria ser imitada por todos, que � parar para ouvir "Samba". O lucro das bebidas, as gatinhas para paquerar e o bate papo enquanto o cara t� cantando, fica l� para o bar, que � lugar disso.

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01-jan-2006