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Se entendi bem a l�gica do momento, a situa��o do pa�s � t�o grave que seria temer�rio entreg�-lo a qualquer outra fac��o que n�o a respons�vel pela situa��o ter ficado t�o grave. Algo na linha do imperativo dom�stico que a gente ouvia da m�e: quem sujou que limpe. Mas como os que sujaram n�o reconhecem que sujaram - pelo contr�rio, identificam-se como guardi�es de uma normalidade amea�ada pela vit�ria da oposi��o - a analogia n�o vale.
Qual � exatamente o "caos" que viria com a elei��o do Lula? Crise financeira, estagna��o econ�mica, desemprego, um clima social explosivo? Isso tudo j� tem. Essa � a normalidade amea�ada. At� o pior efeito previsto de uma mudan�a de modelo, a fuga do capital especulativo, j� come�ou, e o que o espantou n�o foi a cara feia do Lula, mas o reconhecimento de que esse modelo n�o se sustenta. O p�nico com a possibilidade de um calote n�o vem do medo da "esquerda", que no poder n�o seria nem burra nem suicida, mas do tamanho da d�vida, e o que tornou a d�vida terr�vel foi a pol�tica de depend�ncia total adotada pelo atual governo . Muito mais assustador - a longo prazo, at� para os especuladores - do que a perspectiva de uma mudan�a deveria ser a perspectiva da continua��o deste caminho sem alternativa para o desastre.
Mas tal � o dom�nio do pensamento econ�mico hegem�nico sobre a nossa mente colonizada, que ele consegue at� definir conceitos que a realidade em volta desmente, como os de "normalidade" e "caos". Essa guerra civil permanente no meio da qual a gente vive n�o � o caos. Ou � um caos perfeitamente normal. A seriedade e a sensatez que uma aventura esquerdista supostamente destruiria s�o representadas pelos �ndices de desenvolvimento social que elas alcan�aram.
Escolha qualquer um: saneamento b�sico, habita��o, energia... Depois de oito anos de depend�ncia total, ficamos dependentes at� do vocabul�rio e dos valores do capital financeiro, como caddies miser�veis que adotam os h�bitos dos ricos para os quais carregam o saco de golfe. A conveni�ncia do mercado especulativo se tornou o nosso par�metro de normalidade, e qualquer alternativa ao seu dom�nio, o nosso par�metro de terror.
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Publicado no GLOBO em 09/07/2002
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