REVOLU��O SEXUAL

Lu�s Fernando Verissimo

No meu tempo (ali pela Renascen�a) namorar era como uma lenta conquista de territ�rios hostis. Avan��vamos no desconhecido como desbravadores do Novo Mundo. Cent�metro a cent�metro, mentira a mentira. Em nenhuma outra atividade humana, salvo, talvez, a diplomacia, se mentia tanto como num namoro. E o objetivo era o mesmo da diplomacia, conseguir com palavras o que n�o se conseguia com a for�a. Negociava-se cada palmo.

- Pode, mas s� at� aqui.

- Est� bem.

- Jura?

- Juro.

- Voc� passou! Voc� mentiu!

- Me distra�.

Na verdade, n�o ment�amos para voc�s, ment�amos por voc�s. D�vamos a voc�s todos os �libis. O que quer que acontecesse, era por nossa insist�ncia, n�o porque voc�s tamb�m queriam. Calhorda era quem dizia, abjetamente, a verdade, e n�o fazia o que jurava que n�o ia fazer, e voc�s queriam que fizesse. Cavalheiros eram os que diziam que s� queriam ver, n�o iam tocar, e tocavam.

Hoje, pelo que me contam, n�o h� mais este cerimonial. Desgra�adamente, as coisas come�aram a mudar justamente quando eu entrei para uma ordem religiosa, a dos mon�gamos. A revolu��o sexual, que um dia ainda vai ser comemorada como a Revolu��o Francesa, com a inven��o da p�lula correspondendo � queda da Bastilha e o fim do suti� ao fim da monarquia absoluta - e o termo sans culote, claro, adquirindo novos significados - desobrigou o homem de mentir para proteger a reputa��o da mulher. Ali�s, ouvi dizer que agora a mentira mais usada pelo homem durante um namoro � "Hoje n�o, querida, estou com dor de cabe�a".

Mas s� quem viveu antes da revolu��o conhece as del�cias da repress�o. Esta gera��o jamais conhecer� a doce afli��o de tentar desengatar um suti� com dedos tr�mulos, e finalmente conseguir quando j� se come�ava a pensar num ma�arico, s� para ter que engat�-lo de novo �s pressas porque a m�e dela vinha vindo.

Acho que foi isso que nos tornou mais fortes.

 

19/8/2000