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- Voc� me desculpe
eu sentar assim em sua mesa sem ser convidada, mas eu sei que voc� � um
homem simples e, al�m de tudo, uma figura p�blica. Uma figura p�blica tem
de aceitar esse tipo de coisa. Estou interrompendo sua conversa?
- Bem, para ser sincero, est�. N�s...
- Eu n�o vou
tomar seu tempo absolutamente, � s� para aproveitar a oportunidade de
estar com voc� em pessoa e falar umas duas coisinhas, n�o vou interromper
nada, pode ficar tranq�ilo. � que eu sou sua f� n�mero 1, pode ter
certeza. N�mero 1, n�o, n�mero zero! Tenho a maior admira��o por voc�,
n�o perco nada do que voc� escreve. E olhe que eu tenho horror de baiano!
- Eu sou baiano.
- Exatamente! Eu
sei, � por isso que minha admira��o � inacredit�vel, porque realmente n�o
tolero baiano, acho um povo insuport�vel, mas sou sua f� n�mero zero, n�mero
zero!
- Muito obrigado.
Fico contente em saber disso, obrigado.
- Mas tem uma
coisa que eu quero tomar a liberdade de lhe dizer, � s� uma observa��o.
Posso lhe fazer uma observa��o de car�ter pessoal?
- Bem, acho que...
- � simples, mas
importante. � que eu estava prestando aten��o na sua conversa aqui e ouvi
voc� dizer um palavr�o muito feio. Qualquer um diz palavr�o em boteco,
mas confesso que fiquei um pouco chocada. Eu queria lhe pedir que n�o
falasse mais assim, � muito chocante para uma admiradora sua, como eu. N�o
fica bem um palavr�o desses em sua boca, decepciona seus admiradores.
- Desculpe, eu n�o
sabia que a senhora estava prestando aten��o em minha conversa e eu estava
quase cochichando.
- Ah, perd�o, mas
voc� est� se fazendo de ing�nuo. Como � que uma figura p�blica como voc�
vai esperar cochichar numa mesa de boteco sem que os outros prestem aten��o?
Perd�o, mas n�o posso acreditar nisso. Claro que voc� sabe que as pessoas
prestam aten��o em voc�. E n�o s� em sua conversa como em seu
comportamento. Voc� est� tomando u�sque, n�o est�?
- N�o, por acaso
n�o estou, isto aqui � guaran� diet com gelo.
- Ha-ha-ha-ha!
Guaran� diet com gelo, n�o �? Ta�, essa � das melhores piadas que eu j�
ouvi. Guaran� diet com gelo, ha-ha-ha-ha! Posso dar uma bicadinha para
comprovar?
- N�o, isso n�o.
- Por qu�? Fica
com medo de que eu saiba de seus segredos? Sua vida � t�o escabrosa que
voc� tem medo de que os outros saibam seus segredos?
- N�o � isso, �
uma quest�o de higiene mesmo. Afinal de contas, n�o conhe�o a senhora e n�o
acho uma pr�tica muito recomend�vel deixar que outras pessoas bebam do meu
copo.
- Queria voc� ter
a sa�de que eu tenho! Ali�s, eu tamb�m ia falar nisso. Bebendo desse
jeito, estragando sua sa�de, voc� n�o tem esse direito! � uma figura p�blica,
que n�o tem o direito de p�r em risco sua pr�pria vida.
- Eu j� disse que
estou bebendo guaran�. E, mesmo que n�o estivesse, n�o � a senhora que
est� pagando e eu n�o tenho que lhe dar satisfa��es.
- Pois fique
sabendo que tem. Voc� � uma figura p�blica, deve satisfa��es a todos e
tem a obriga��o de dar o bom exemplo.
- Eu n�o tenho
obriga��o nenhuma, a n�o ser as que a lei me imp�e. Nunca pedi voto nem
� senhora nem a ningu�m e n�o exer�o cargo p�blico.
- A� � que voc�
se engana. Voc� deve tudo a seus leitores. Se n�o fosse por seus leitores,
voc� n�o era nada. � a mesma coisa que exercer um cargo p�blico, n�o h�
diferen�a.
- Eu gosto de meus
leitores, mas tamb�m n�o pe�o a ningu�m para ler o que eu escrevo, l�
quem quer.
- O senhor est�
� se lixando para seus leitores.
- Eu n�o estou me
lixando para leitor nenhum, eu s� disse que n�o for�o ningu�m a ler o
que escrevo, l� quem quer.
- Nunca esperei
uma atitude t�o arrogante de sua parte, realmente � uma decep��o.
- Eu n�o estou
sendo arrogante, eu estou somente...
- Est� sendo
arrogante, sim! Ainda mais sendo um escritorzinho de cr�nica mixuruca,
muito inferior a outros a quem a m�dia n�o d� cartaz. Quem faz voc� � a
m�dia, est� sabendo? A m�dia e os leitores que ela cria. E agora fica com
essa banca toda, como se fosse realmente algu�m de grande valor.
- Tudo bem, a
senhora tem raz�o, mas agora me d� uma licencinha e me deixa continuar
minha conversa?
- Mas com todo o
prazer! Se arrependimento matasse, eu j� tinha ca�do dura para tr�s por
ter sentado em sua mesa para ser tratada dessa forma grosseira. Eu tinha raz�o,
baiano n�o vale nada mesmo, j� mudei de id�ia a seu respeito, voc� n�o
� exce��o, � igual a toda essa baianada nojenta que vive por a� e devia
voltar l� para sua porcaria de terra, onde s� tem negro e macumba. E se
prepare para a decad�ncia, hem? Um dia a casa cai, bichinho! Passar bem,
nunca mais me dirija a palavra! � porque eles n�o publicam, sen�o eu
escrevia uma carta ao jornal, denunciando seu comportamento indigno. Mas um
dia a casa cai, bichinho, j� caiu para gente muito melhor que voc�! Passar
bem, bichinho!
P.S. - Eu sei que
voc�s pensam que estou exagerando, mas n�o estou. Estou at� atenuando,
para n�o parecer mentiroso, embora tenha muitas testemunhas.
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