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Deve ser muito dif�cil ser jornalista neste pa�s do Lula. Tiraria meu chap�u para
eles, se o usasse. Como n�o uso, fa�o-lhes uma rever�ncia, dizendo Ave,
Imprensa! As not�cias voam, s�o como enxurrada, cascatas de novidades a cada
dia, o cen�rio muda quase que de hora em hora. N�o sei como os profissionais do
ramo conseguem se deter, estudar os fatos, analisar os personagens, transmitir
as informa��es coletadas. Para falar a verdade, nem sei como se concentram a
ponto de coletar dados. Est�o falando sobre �A� e r�pido entra o assunto �B� na
linha. Complicado.
Ontem, dona Dilma nadava de bra�ada num mar de almirante, elogios os mais
inacredit�veis vindos de todos os lados. Merecidos, ali�s. Cutucada com vara
curta pela afoiteza do senador Agripino Maia, que com certeza achou que estava
sendo de uma sutileza admir�vel, reagiu como on�a ferida. Foi braba, a ministra.
Calou bem caladinho o senador do DEM.
Hoje, volta ao fio da navalha, com a revela��o de que o vazamento daquilo que
ela apelidou de banco de dados partiu de um funcion�rio da Secretaria de
Controle Interno da Casa Civil, Jos� Aparecido Nunes Pires. Que resolveu enviar
por e-mail esse brinde, chamemos assim, a um seu bom amigo, Andr� Fernandes, por
acaso funcion�rio do gabinete do Senador �lvaro Dias (PSDB/PR). Acrescente-se
que Jos� Aparecido est� nesse gabinete politicamente ultra-sens�vel por
indica��o de Jos� Dirceu, ex-deputado e ex-Ministro Chefe da mesma casa Civil. E
petista 5 estrelas.
N�o duvido nem por um segundo da capacidade de dona Dilma como guerrilheira,
combatente do bom combate. Impec�vel na contra-revolu��o, �ntegra e forte a
ponto de sofrer torturas b�rbaras e n�o entregar um s� companheiro. Encarcerada
durante tr�s anos, segundo seu depoimento ao Senado Federal, orgulha-se de sua
posi��o naqueles tempos e de sua fibra. Com toda a raz�o. A d�vida que me
persegue � a seguinte: esses jovens lutaram por qual causa? O que � mesmo que
queriam? N�o estou, por Deus, sendo ir�nica. Dizem, todos eles, que devemos
nossa liberdade, sobretudo a de express�o, a eles. Permitam que discorde.
Devemos a volta � normalidade aos que aqui ficaram, aos que n�o acirraram o
revide dos militares, trabalhando como formiguinhas, quase que em sil�ncio,
comendo pelas beiradas, e ajudando a minar uma fortaleza que j� nasceu meio
bamba, posto que sob a �gide da estupidez.
Os terroristas lutavam pela liberdade? Ent�o porque diabos aprovam e exaltam
Fidel Castro, para citar o exemplo mais not�rio? O cubano � o mais v�vido
exemplo do horror que � uma ditadura. Como todo ditador, come�ou bem, derrubando
uma ditadura indecente e safada. Havana era o bordel favorito da m�fia
americana. E no que transformou sua pequena ilha, t�o f�cil de administrar, pelo
tamanho e pelo entusiasmo que despertou em seus conterr�neos? Numa outra
ditadura. A diferen�a? � que essa emociona os Dirceus da vida. � a �nica
explica��o, j� que a mis�ria continua a mesma, a liberdade � nenhuma, e foi
preciso ele envelhecer e adoecer para que as coisas come�assem a se transformar
em Cuba.
Portanto, como combatente, a ministra mostrou que sabe administrar o combate
e a si mesma. Vamos �s outras partes de suas 9 horas de deposi��o que, por falta
de um bom jornalista para lhe fazer perguntas, parou na bronca bem dada que ela
deu no senador.
Claro que uma pessoa com o controle demonstrado pela ministra nos seus tempos
de guerrilheira, n�o ia, assim como quem n�o se d� conta, entregar o fogo f�tuo
que � o PAC. Mas o que � o PAC? Quem s�o os verdadeiros criadores dos projetos
inclu�dos no PAC? De onde saem as verbas que o sustentam? O que o PAC j� ergueu?
Em que p� est�o as in�meras obras inauguradas pelo presidente Lula, nas dezenas
de palanque que ele ocupa h� mais de dois anos? Quais j� est�o em uso? Quais j�
est�o em fase de conclus�o? Onde? Em que cidades, em que estados? Onde posso ir
e ver um projeto do PAC pronto e acabado? N�o vale maquetes, nem power-points,
nem AutoCads.
Como m�e do PAC, dona Dilma n�o me inspira muita confian�a. E como Chefe do
Gabinete Civil da Presid�ncia da Rep�blica, menos ainda. Primeiro, n�o havia
dossier, nem dossi�, como querem os puristas da l�ngua, puristas c� para n�s de
meia tigela, pois dossi� � galicismo brabo, o melhor � usar pasta ou banco de
dados, como quer a ministra.
Voltando ao que interessa: primeiro n�o havia banco de dados. Depois, foram
surgindo algumas vers�es para um vazamento. E na quarta-feira, finalmente, a
vers�o que negava todas as vers�es: n�o houve vazamento, pois n�o havia sigilo
algum.� Dados de governos findados n�o s�o mais sigilosos! N�o � supimpa?
Essa vers�o n�o fecha enquanto algumas perguntas n�o forem respondidas. Umas
para roteiro de um bom escritor, como Rubens Fonseca, por exemplo. Outras para
esclarecimento dos fatos:
- Jos� Aparecido Nunes Pires resolveu, de uma hora para a outra, trair a
confian�a da chefe, assim, sem mais nem menos? � toa? Porque lhe deu na
telha?
- Ele escolheu, como recipiente de seu presente, um assessor do senador
tucano �lvaro Dias, por horror ao PT e amor ao PSDB?
- Por mais que eu adore uma boa hist�ria de mist�rio, vamos aos fatos,
deixemos a fic��o de lado: quem mandou o funcion�rio Jos� Aparecido trabalhar
num banco de dados sobre os gastos de FHC e dona Ruth, e depois ordenou que ele
os repassasse para o assessor do senador paranaense?
- Quer dizer, em bom e velho portugu�s, quem foi o mandante?
Ser� que a tremenda coincid�ncia, resultado da per�cia feita nos computadores
da Casa Civil sendo vazado justo no dia seguinte da suposta �vit�ria� de dona
Dilma no Senado, n�o constrange o Governo? Nem ficam ruborizados?
Essa novela rocambolesca provou uma coisa: o Gabinete Civil da Presid�ncia da
Rep�blica virou uma peneira. E isso � um perigo. Enquanto os Pais do PAC
palanqueiam Brasil a fora, os ratos brincam no Gabinete. Favor contratar um bom
gerente imediatamente, antes que fiquemos sabendo quantas tapiocas come por dia
o Presidente Lula.
Al�m desse gerente, o Brasil precisa de uma boa limpeza. Uma faxina em regra,
daquelas de mandar lavar as cortinas e tudo. N�o d� mais para vivermos sob a
tutela dessa pacotilha que s� quer nos cindir: brancos x pretos, pobres x ricos,
alfabetizados x analfabetos, cultos x ignorantes, esquerda x direita, elite x
prolet�rios.
Isso j� est� ficando rid�culo. J� usam como desculpa para seus malfeitos
�acusa��es vindas de uma elitezinha�! Como n�o podem mais acusar os �gorilas�,
que hoje at� elogiam, inventaram uma elitezinha que quer o mal de todo o Brasil.
N�o sei bem o que o sindicalista Paulinho quis dizer com esse diminutivo, mas
desconfio que falasse de seus pares. Pois elite no diminutivo, cafona, brega,
sem categoria, inculta e usando palavras e gestos chulos em p�blico, s� se for
essa elitezinha empacotada que est� transformando o Brasil num pa�s muito
feio.
Vamos parar de �glamourizar� o passado recente, como disse um leitor deste
blog ontem. Ele n�o teve encanto algum, nem de um lado, nem do outro. Acabar com
as pr�ticas do tempo de nossa breve e nefasta ditadura tamb�m � bom: chega de
coletar dados sobre a vida dos outros e us�-los como amea�a ou defesa. Jogo
limpo. Transpar�ncia verdadeira, n�o essa de fanqueiros.
Ser� que dona Dilma vai ser eleita presidente do Brasil? Ter� o voto das
feministas, sempre prontas a apoiar uma das suas representantes. Ontem ouvi uma
delas, entusiasmada, mencionar tr�s vezes que a ministra se emocionou, ficou com
os olhos cheios d��gua... Curioso como essas senhoras fortes, Dilmas e Hillarys,
ainda encantam seu p�blico com armas muito femininas.
Vai ser uma experi�ncia engra�ada ver o PDT do velho Brizola e seu amig�o
Darci Ribeiro no poder. Se eu n�o estiver mais por aqui, vou procur�-los na
nuvem 12.
09 maio 2008 - Transcrito do
Blog do Noblat
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