Cretinices, verbais ou n�o

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

No dia 21 de mar�o, num palanque, dessa vez em Foz do Igua�u, o presidente Lula disse o seguinte:

�De vez em quando, algu�m fala assim para mim: mas o governo est� utilizando o PAC eleitoralmente. Isso � de uma cretinice verbal que n�o tem l�gica�.

O que ser� que ele quis dizer com isso? Cretinice, verbal ou n�o, tem l�gica? Ser� que ele sabe o que quer dizer cretinice, foi a primeira coisa que pensei. Para logo em seguida recordar que o presidente Lula s� diz essas parvo�ces quando quer. Ele sabe muito bem para quem fala, como fala e o que fala. Pode errar nas concord�ncias, erra na pron�ncia, chove perdigotos que salvariam o sert�o, � um horror na forma, mas o conte�do, se assusta ou faz rir quem n�o � de sua patota, aos companheiros e aos bolsistas de seu governo, agrada e muito.

O diabo � que a doen�a � contagiosa. A tal da cretinice verbal se alastra igual o aedes. Verbal, por escrito, factual, tivemos nesta �ltima semana um Festival de Cretinices Que Assola o Pa�s.

Ontem, ent�o, foi a gl�ria para os cretinos e adeptos da cretinice. O Ch�vez veio ao Brasil. Trouxe assessores, seguran�as, dois chefes de cozinha, cinco cozinheiros e dois c�es de guarda para as cerca de 50 horas que ia passar no Recife e em S�o Luiz do Maranh�o. N�o sei se fez como a outra senhora adepta do cretinismo verbal, a senhorita Rice, que trouxe �gua mineral para os dias que passou no Brasil. Ser� que o da Venezuela tamb�m trouxe �gua? Isso a PIG infelizmente n�o informou.

Eu s� queria saber se M. Sarkozy, filho ilustre da capital da gastronomia, que foi a Londres com sua linda mulher, levou s�quito parecido com o do bolivariano. Faria mais sentido, c� entre n�s. Mas creio que n�o. Al�m de bom gosto em companhias femininas, o presidente franc�s � da escola da galanteria francesa e n�o ofenderia assim a rainha Elizabeth II.

J� o bolivariano n�o se incomodou com esses detalhes. Gordo, com aquele sorriso bonach�o que endossa a cada vez que se encontra com o amigo Lula, Ch�vez, o Pacificador, fez bonito em S�o Luiz. Ao redor do pal�cio do governo local, montou uma verdadeira pra�a de guerra, com atiradores de elite e tudo. Fiquei muito surpresa. N�o sabia que havia tantos inimigos assim do Ch�vez em terras do Maranh�o. Ainda bem que ele veio precavido. J� pensaram se um atirador da elite maranhense acerta o bolivariano? Ou se lhe servem uma cartola envenenada ou um suco de mangaba adulterado l� no Recife? E o homem passa desta para melhor? Deus nos livre e guarde!

O Festival teve outros lances. Um deles, como n�o podia deixar de ser, ocorreu no Congresso. Dona Ideli, com certeza sem o poder econ�mico do Ch�vez, n�o pode levar para a capital seus cozinheiros e sabe-se l� o que andam lhe servindo. O fato � que estava muito enraivecida, com toda certeza sofrendo alguma dor. Dengue n�o � que, gra�as ao Cristo Redentor, ela n�o � do Rio. Mas, ao dizer, olhos esbugalhados, voz mais ardida que o comum, que Dona Dilma n�o vai depor na CPI por conta do que poder� vir a ser em 2010, Dona Ideli demonstrou todo o desconforto porque passava. At� me atrevo a dar-lhe um conselho: como ela � companheira, que pe�a ao amigo Ch�vez que lhe ajude enviando alguns de seus chefes de cozinha. Ele � um cavalheiro (aten��o, aproveito para dizer que cavalheiro � um homem de educa��o esmerada, cort�s; j� aquele que anda a cavalo, � um cavaleiro). Bilion�rio, ali�s. Um verdadeiro Oil Tycoon. Com certeza, atender� o pedido da nobre senadora.

J� o criador da bela express�o cretinice verbal, o Nosso Guia dos petistas e afins, esse, ontem, quinta-feira, foi brilhante. N�o sei se foi o cont�gio com o Ch�vez, ares do Pac�fico em pleno Recife banhado pelo doce Atl�ntico, mas ele, al�m de batizar o amigo bolivariano de �O Pacificador�, e de lhe cumprimentar com o chap�u dos outros, ainda contou aquele telefonema c�mico para o Bush. Se houve ou n�o houve o papo via telefone, � irrelevante. N�o ia dar em nada mesmo. Serviu ao mais belo prop�sito o relato feito pelo Lula: a plat�ia de empres�rios � palanque sofisticado e rico, dessa vez � adorou a piada, riu muito, felizes de ver como seu presidente � esperto e engra�ado.

Enquanto esse pessoal passeia e se diverte, n�s, cariocas, sofremos com a dengue. E como se n�o bastasse a dor e o atraso, ainda tivemos que nos submeter �s mais variadas cretinices, verbais ou n�o. O prefeito daquela cidade que n�o sofre uma epidemia de dengue, apenas uma epidemia virtual, estampada pela imprensa que ama o Lula e o Tempor�o, foi a Salvador para o primeiro anivers�rio de seu partido. Diz ele que rezou para o Senhor do Bonfim enviar o aedes para o Oceano.

Em 24 de mar�o, Maia escreveu para a Folha de S�o Paulo: "Fico feliz em ver que o minist�rio e o Estado est�o entrando em campo. Temos 123 pontos de hidrata��o. Mais dois ou tr�s v�o ajudar. Mas nosso foco s�o os �bitos, que praticamente zeramos, em mar�o, em nossas unidades�.

E disse mais: �entre nove mortes provocadas pela dengue durante este m�s de mar�o, s� uma ocorreu em um hospital municipal --a de um menino de 6 anos. Outras tr�s ocorreram no Hospital Albert Schweitzer, estadual; uma no Hospital de Jacarepagu�, federal; e quatro em hospitais particulares.�

Em mat�ria de declara��o, essa barrou todas. S� UM menino morreu em hospitais municipais! Um j� � demais, prefeito. Mas ele n�o ficou calado, ainda disse que �transferir responsabilidades � pr�prio dos fracos�. Como disse J�nio de Freitas na mesma FSP: �Senten�a em que Cesar Maia dispensa testemunhos: � autor e prova�.

Em minha opini�o, n�o h� a menor d�vida de que a responsabilidade do prefeito C�sar Maia � muitas vezes maior do que a das autoridades estaduais e federais. Tivesse ele cuidado de sua cidade, estaria gritando e alertando a popula��o contra o descaso do governador Cabral e do ministro do Lula. Da mesma forma, o ministro Tempor�o, ao perceber que os prefeitos e o governador do estado do Rio de Janeiro n�o estavam dando conta do recado, j� deveria ter tomado uma atitude dr�stica e urgente, e n�o continuar a dizer que vai levantar, vai instalar, vai fazer, vai inaugurar...

Se aqui no blog partidarizar o sofrimento de uma popula��o � repulsivo, o que dizer desses pol�ticos que s� agem pensando no que ser� melhor para seus planos? C�sar Maia n�o quer colocar ovos na cestinha do Cabral, que retribui com a mesma moeda. Sergio Cabral pareceu desolado, depois de mais uma longa viagem. O ministro da Defesa consente nos hospitais de campanha, mas vamos com calma, ele estava em Washington e depois vinha a Semana Santa, e ele quer estar aqui para as inaugura��es. O mosquito que tenha a santa paci�ncia.

J� o Lula, esse vai poder dizer que anda t�o ocupado, viaja o pa�s todo para ver se o desempaca, que n�o teve tempo nem de ler os jornais. �Epidemia? No Rio? O que � isso? �, Tempor�o, do que se trata? Porque voc� n�o me disse nada? � Cabral, ser� que voc� me arrumou outro aloprado? Assim n�o d�, assim n�o � poss�vel! Vou j�, j�, telefonar para o Bush�.


28 mar 2008 - Transcrito do Blog do Noblat com autoriza��o da autora e do Noblat.

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06-jun-2008