E quem segura o Presidente?

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Era uma vez, na Gr�cia Antiga, um grupo de lindas mulheres que habitavam rochedos escarpados sobre as margens do mar, entre a ilha de Capri e a costa da It�lia. Suas vozes eram doces e suas palavras encantadas.

Um or�culo predissera que elas viveriam tanto tempo quanto pudessem deter os navegantes, impedindo sua passagem; mas se apenas um passasse, sem para sempre ficar preso ao encantamento de suas palavras e � do�ura de suas vozes, elas morreriam. Somente um canto mais belo que o seu serviria de perd�o, caso n�o impedissem a passagem de um s� viajante. O que as fazia viver em permanente vig�lia.

Todos os que se aproximavam dos rochedos, atra�dos pelo seu canto, eram seduzidos a tal ponto que se esqueciam de seu pa�s, de sua fam�lia e at� de si mesmos: n�o bebiam, n�o comiam, e morriam de inani��o. Toda a costa ficou branca com os ossos daqueles que ali pereceram.

As Sereias foram vencidas duas vezes: Orfeu, um dos cinq�enta Argonautas, poeta sublime, tomou sua lira e dessa vez foi ele que as enlevou com seus versos e seu encanto. E o navio Argo passou inc�lume.

A segunda vit�ria foi de Ulisses. Obrigado a passar pelos rochedos das Sereias, mas tendo sido advertido por Circe dos perigos que correria, tapou com cera os ouvidos de todos os companheiros de viagem e se fez amarrar, de p�s e m�os, a um mastro. E os proibiu de o desamarrarem, mesmo que ele viesse a implorar. S�bias precau��es: Ulisses, mal ouviu as doces palavras e as vozes sedutoras, deu ordem aos companheiros que o soltassem, o que eles felizmente n�o fizeram. As Sereias, n�o tendo podido deter o grande navegador, precipitaram-se no mar e foram transformadas em pequenas ilhas rochosas, as Sirenusas.

Isso foi na Gr�cia Antiga.

No Brasil de hoje... temo que elas tenham ressurgido. Seu canto tornou-se monoc�rdio e feio como o piar de uma gralha, mas parece ter retido o encanto. O canto do Devanir � ah! a voz e o encanto do Devanir! -, a poesia do prefeito do Recife, e at� o lamento do vice Alencar, repetem a magia das Sereias... Poder� o presidente resistir?

Pe�o ao presidente que se mire no exemplo de Ulisses.  Quantos e quantos s�culos se passaram e ele ainda � o her�i admirado por muitas e muitas gera��es! E hoje est� tudo muito mais f�cil: as bolas de cera podem ser compradas em qualquer farm�cia de Paris. V�m numa bela caixinha e s�o fac�limas de colocar. E n�o custam caro. Nem precisa usar cart�o, corporativo ou n�o. N�o sei se o General Felix iria encar�-las como assunto sigiloso, por isso n�o dou o nome de sua marca registrada aqui. Qualquer balconista sabe do que se trata.

Se a pessoa encarregada da compra n�o quiser falar em Sereias e com isso entregar o jogo aos espi�es que pululam em nosso pa�s, que diga que s�o bolinhas de cera para o companheiro(a) n�o ser incomodado com seu ronco. Pronto. Basta essa informa��o.

Resta uma pergunta: quem vai segurar o presidente e colocar as bolinhas de cera em seus ouvidos?

(Com a preciosa colabora��o da Nova Mythologia Grega e Romana, de P. Commelin, Livraria Garnier, 6� edi��o, tradu��o de Thomaz Lopes)


11 abr 2008 - Transcrito do Blog do Noblat com autoriza��o da autora e do Noblat.


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06-jun-2008