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Na cr�nica de domingo, ele matou a charada: �O importante n�o � a comida, � estar comendo a caminho de algum lugar.�
Como � que eu n�o tinha pensado nisso?! � claro, o segredo
das bandejinhas est� mais no significado do que no conte�do
� embora um fondue de chocolate possa se dar ao luxo de
dispensar qualquer significado.
J� o grande segredo do servi�o de bordo, que sempre come�a
pela outra ponta do avi�o, me foi gentilmente esclarecido
por passageiros observadores, e confirmado por tripulantes:
�O servi�o come�a no meio, com duas equipes de comiss�rios,
que se dirigem �s pontas�, escreveu a comiss�ria Danielle
Rayol. �Dessa forma, tanto quem est� na frente quanto quem
est� atr�s � servido por �ltimo... Quem est� no meio � que
se d� bem. Tamb�m, j� est�o em cima da asa, pelo menos v�o
comer primeiro, n�?� Faz sentido, sem d�vida alguma �- e
explica porque � que eu, que sempre vou bem na frente ou bem
atr�s, estou quase sempre entre as �ltimas pessoas a serem
servidas. Ana Gomes, outra comiss�ria da Ponte A�rea,
completou a informa��o: quando h� menos de 60 passageiros,
ou seja, meio avi�o, o servi�o come�a pela frente.
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Devo dizer, ali�s, que fiquei extremamente comovida com a
quantidade e com o teor dos e-mails que recebi de
comiss�rios de bordo e comandantes da Varig, muitos deles j�
aposentados. � vis�vel que, para essa turma t�o simp�tica, a
Varig n�o � apenas um emprego, mas um grande motivo de
orgulho, apesar dos tempos dif�ceis.
�Se um dia fizerem a CPI da Infraero, vai se descobrir que
provavelmente n�o s� os fingers foram constru�dos a
metro, mas concreto e asfalto tamb�m s�o um grande neg�cio�,
escreveu Bruno Gelmi a respeito de outro t�pico da cr�nica,
o exasperante comprimento desses t�neis nos aeroportos
brasileiros. Ele se deu ao trabalho de observar alguns
aeroportos no Google Earth, programa que � um perfeito
retrato da Terra, e descobriu diferen�as chocantes entre o
que se faz no Brasil e o que se faz no chamado mundo
civilizado. Pelas fotos nota-se claramente que economia de
espa�o e de recursos � coisa de paisinhos que pensam
pequeno, como, digamos, a Alemanha ou os EUA. Para os f�s do
Google Earth, a� v�o algumas coordenadas enviadas pelo
Bruno: Gale�o 22 48� 54,62� S / 43 14� 52,92� W; Frankfurt
50 02� 50,04� N / 8 34� 31,12� E; e Los Angeles 33 56�
48,59� N / 118 24� 14,44� W.
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Al�m dos fingers esdr�xulos, outro crime est� sendo
cometido com a reforma dos aeroportos: todos est�o perdendo
os terra�os panor�micos. Quem me chamou a aten��o para isso
foi Daniel Carneiro, que pertence a uma esp�cie ainda mais
estranha do que a dos gourmets voadores, a dos spotters
, que gostam de apreciar pousos e decolagens. Esta turma,
que leva o hobby a s�rio e faz fotos maravilhosas de avi�es,
est� perdendo o seu espa�o.
�Voc� deve ter acompanhado a festa que era, anos atr�s, uma
chegada do Concorde ao nosso Gale�o�, observou. �Centenas de
pessoas se amontoavam no (ent�o aberto) terra�o do aeroporto
para apreciar o pouso da bela ave. Bons tempos que n�o
voltam mais, pois o Concorde deixou de voar e os terra�os
foram reduzidos e fechados com vidra�as escuras...�
Para avaliar o que se est� perdendo com o fim dos terra�os,
basta dar uma olhada nas magn�ficas cole��es de imagens do
Daniel, em <dcpics.notlong.com> e <dcpix.notlong.com>.
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J� minha apreens�o com o que est� por acontecer ao Santos
Dumont encontrou eco no cora��o de Ricardo Freire, cronista
da ��poca� e viajante tarimbado. Na �ltima p�gina da revista
desta semana, ele prop�s a cria��o de um movimento contra a
constru��o de fingers no �aeroporto mais charmoso
do planeta�. O Santos Dumont � pequeno e n�o precisa de
obras fara�nicas; s� precisa que o deixem em paz. Afinal,
descer do avi�o por uma escadinha com vista para o
P�o-de-A��car, sentindo o cheiro da maresia, � uma
felicidade que n�o tem pre�o, e que faz da chegada ao Rio
algo �nico e deslumbrante.
Nem preciso dizer que apoio incondicionalmente o movimento.
Vamos lutar pelo tombamento do nosso aeroporto querido,
antes que seja tarde!
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