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Particularmente, fico aliviado com a exorta��o presidencial. J� pensaram se o governo perdesse a paci�ncia comigo ou at�
com voc�s, os que tamb�m criticam ou reclamam, mesmo n�o sendo da imprensa? Afinal, quem governa � o governo e os governados
somos n�s. Gostar ou n�o gostar de alguma coisa � certamente um privil�gio que o governo nos outorga. Na minha irrespons�vel
ignor�ncia, desconhe�o a lei com que o governo (ou o Estado, que aqui � a mesma coisa) nos faculta gostar ou n�o gostar. �
com certeza essa lei, bem como o esp�rito democr�tico inerente ao governo, que nos garante que n�o vir� a� uma medida provis�ria,
instrumento principal de a��o legislativa a que hoje somos submetidos (na ditadura do Estado Novo se chamava decreto-lei, mas isso
era na ditadura, agora � muito diferente), nos desautorizando a gostar ou n�o gostar de algo sem permiss�o, depois de contratarmos
um despachante que nos possibilite tirar a papelada necess�ria, embora, numa confus�o normal em qualquer administra��o, parte do
governo assegure que n�o h� tanta burocracia aqui e parte denuncie essa mesma burocracia. De qualquer maneira, vou logo agradecendo,
porque, se o governo perdesse a paci�ncia, nada mais justo que me proibisse de dizer que n�o gostei disso ou daquilo, ou ordenasse que
o jornal deixasse de publicar o que escrevo. Obrigado, muito obrigado, menos um desempregado, neste pa�s que a passos largos se
aproxima do pleno emprego. A fam�lia que depende de mim tamb�m agradece a concess�o. Estamos com a cesta b�sica garantida, pelo
menos enquanto durar a paci�ncia do governo, que, como tamb�m ouso dizer da paci�ncia do imperador do Jap�o, n�o � eterna.
Pedindo desculpas por falar em meu caso particular, mas com a consci�ncia apaziguada por achar que muitos outros se encontram
em situa��o parecida, solicito tamb�m v�nia ao governo para expor (e estar pronto a desdizer-me, se ele perder a paci�ncia,
pois n�o quero ser subversivo), o ponto de vista de que n�o mudei. Tenho sido acusado de haver mudado. Costumava fazer tantas
cr�ticas ao governo passado, manifestei tanta esperan�a no governo atual e agora fa�o cr�ticas ao presente. Como n�o existe
mais o ouro de Moscou para me sustentar e n�o acho muito prov�vel que Wall Street resolva me conceder um estip�ndio para que
eu defenda seus interesses, talvez fique dif�cil entender por que mudei tanto, sou outra pessoa, tenho outras convic��es.
Sim, devo ter mudado. Fiquei mais careca, as pelancas do pesco�o aumentaram, deixei de fumar e � s� para n�o dizerem que perdi
de todo a coer�ncia que continuo a comprar meus jornais na banca do Carlinhos, aqui perto de casa, e meus rem�dios na vener�vel
farm�cia Edith (daqui a pouco eu passo l� para pegar minhas revistinhas e minhas p�lulas para reumatismo como pagamento pela
promo��o, pois n�s, jornalistas venais, levamos vantagem em tudo e n�o vou citar os nomes de dois estabelecimentos comerciais
assim de gra�a). Mas confesso que enfrentei dificuldades em achar que minha maneira de pensar ou agir mudou. Lendo, por�m, o
que o dr. Dirceu disse, percebo que mudei muito, o PT � que n�o mudou nada. Assumiu e come�ou a mostrar logo que veio para
cumprir o que disse que estaria a� para fazer. Como o direito de pensar tamb�m � uma benemer�ncia do governo, registro minha
gratid�o e longe de mim querer prejudicar, com as minhas mudan�as atarantadas, a performance do Partido-Estado nas elei��es
municipais. For�a para ele, at� porque estou ficando com grande receio de que, perdendo as elei��es, ele perca tamb�m a paci�ncia.
Ia dizer hoje que andei chocado com o fato de que pr�dios residenciais foram abandonados, aqui no Rio, depois que bandidos
(se n�o for politicamente correto o emprego desta palavra, por favor mudem-na, eis que, se n�o quero que o governo perca a
paci�ncia, muito menos desejo que os senhores bandidos tamb�m o fa�am, apesar de todos contarmos com eficiente prote��o
policial para nos garantir - como garantiu que os moradores do Morro do Adeus fugissem de suas moradias em perfeita desordem)
invadiram e depredaram suas moradias. Tamb�m ia dizer que achava meio estranho o governo afirmar que fez tantas reformas e que me
surpreendia com a curiosa circunst�ncia de que o faturamento das 500 maiores empresas brasileiras subiu de 2 bilh�es em 2002
para 21 bilh�es em 2003, apesar de nossa renda haver baixado. A que ponto chegar�o minha cegueira, m� vontade e/ou venalidade?
Se isso n�o � progresso, n�o se sabe mais o que �. N�s � que nunca tivemos paci�ncia com os governos, isso sim, chega de exigir
sacrif�cios deles. Os impostos tamb�m subiram bastante, pois nos beneficiaram com a reforma tribut�ria. Enfim, o espet�culo do
crescimento est� a�, s� n�o v� quem n�o quer. Haja paci�ncia no governo. Creio que, apesar de n�o ter procura��o, falo por
muitos compatriotas. Obrigado, obrigado, presidente, obrigado, governo, por tanta paci�ncia conosco. E vamos procurar n�o
atrapalhar mais, povo atrapalha muito.
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