Cidade do interior paulista. Anos 60. Praça lotada, no final de semana, à tardinha.
Círculos concêntricos: jovens passeiam na praça principal. Na larga calçada, rapazes para um lado, órbita mais externa, como bons cavalheiros, moças no sentido inverso. (Na rua, o mesmo jogo, só que com peças diferentes: os moradores mais humildes da cidade. Espanto!)
Balé moderno, os olhares se cruzam: uns se atraem, subitamente, outros se diluem... até à próxima volta, quem sabe?
Súbito, sem pedir permissão, dois olhos de jade iluminam a noite que chega... Encaram outros, castanhos. O flash mental dispara! Arquivado!
Dois dias depois, Carnaval. Fantasias prontas. Correria, excitação, insegurança... sabe-se lá o que mais nas cabeças adolescentes.
O clube está cheio. O grupo, carioca, se instala, poderoso.
Dançam todos juntos e, depois, cansados, sentam na mesa.
Só ela permanece de pé.
Então...
Dois faróis verdes aparecem na curva do salão! E a focalizam, iluminando-a. Ela os reconhece, imediatamente. Constatação individual, no grupo não encontrará apoio. Terá que enfrentar a situação sozinha! E "eles" se aproximando...
Desarmada, a timidez se instala. E contrai. E paralisa! E o verde mar, avançando, em ondas de calor e suor frio... (e a constatação de que, em segundos, vai ser "tirada" para dançar)... meu Deus!
O mergulho iminente... A atração é tão intensa...
MAS, MAIOR, O MEDO!
Vence o mais forte: ela se senta e finge conversar com as amigas, trêmula...
Os verdes olhos estacam, sem entender...
Como poderiam?
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