OLFATO

Maria Ang�lica Monnerat Alves

Devo ter algum parentesco com o meu cocker... sou movida a cheiros!

Desde sempre foi assim...

Um dos meus preferidos e, seguramente, o mais antigo, � o de lenha queimando. Ao senti-lo, sou remetida, instantaneamente, ao quintal da casa da minha bisav� Luzia. Sensa��o de conforto, paz, equil�brio com o mundo.

E o da banheira da minha av� T�nia? Qual era o produto usado na limpeza di�ria? E os seus famosos sais de banho? E a col�nia, naquele vidro enorme, quadrado? Qual era?

E o do "p� de arroz" da minha av� Dinda? Pontualmente aplicado �s quatro da tarde, ap�s o banho, num ritual di�rio? (e depois colocado na gaveta do bel�ssimo �tag�re de m�rmore). O cheiro se espalhava pela casa, misturando-se ao do caf� quentinho, passado na hora no velho coador de pano...

E o cheiro de dama da noite? Este me tira do s�rio at� hoje. Me devolve a quietude das noites do Carmo da minha adolesc�ncia.

O dos fogos de artif�cio, quando anunciam que junho chegou.

O do "Fogo de Conselho", do acampamento das bandeirantes. ("Semper parata"!)

O cheiro dos meus beb�s... do meu filho, especialmente, ainda na maternidade, igual ao do pai. O de grama cortada recente. Molhada pela primeira chuva de ver�o.

E o da praia, crian�a, maresia combinada com �leo Dagele?

Do sabonete Alma de Flores, que materializa um buqu� de rosas, cart�o em franc�s, letras g�ticas, filme "Um dia, um gato"... h� muito tempo...

Das ensolaradas ruas das cidades do interior.

E o de Giverny?

De tempero: alho, cebola, refogados.

De vela de canela.

E o da flor minha xar�? De tontear. Do jasmim do cabo, nas noites das ruas do Cosme Velho? Da �rvore da felicidade, que poucos percebem?

E se seguem outros: primeiro dia em Florian�polis, no aeroporto, ar fresquinho entrando pela alma e vida nova come�ando.

De padaria �s seis da manh�.

Do primeiro apartamento, do Nocturnes, do Ant�lope.

Da carne assada da minha m�e.

Do bolo dominical para meus filhos...

Liga��es foram estabelecidas para sempre, me asseguram.
Entre mim e minhas lembran�as, por eles preservadas.

Que sintonizam o ser que SOU.

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13-out-2008