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A MULHER

Maria Ang�lica Monnerat Alves

M�o no queixo, ela se queda, pensativa.

Beleza grega, vestida com esmero, alta, esbelta. Cabelos ondulados, presos displicentemente.

Passo pela rua, de manh� cedo e a vejo no jardim, � entrada da casa majestosa. Sua figura chama a minha aten��o. Quase volto para observ�-la melhor. Continuo, por�m, o meu caminho... (n�o posso me atrasar!)

Ela, s�bia, se concentra e medita.

Minha mem�ria capta a r�sea harmonia: pele e roupa. E meu c�rebro registra o instant�neo, inesperado, na manh� luminosa de inverno.

Carros passam,velozes. Impacientes, ao sinal fechado, param, a contragosto. Nem mesmo este frisson matinal a perturba, espectadora imperturb�vel que �.

Chego, finalmente, ao meu curso de ingl�s. Durante a aula, por�m, n�o consigo me desligar da singular vis�o daquela mulher. Impregnou-me sua figura cl�ssica. Me pego imaginando quem teria criado sua magn�fica roupa... E o tecido, mousseline? Ou talvez um cetim, para o efeito sensual do drapeado, a proteger seu corpo dos passantes curiosos, como se vestal fosse...

No caminho de volta, ainda a encontro na mesma posi��o. Nada a perturba: impass�vel, ela continua a refletir, o olhar perdido... (em que/quem pensaria ela?)

Paro, extasiada, uma vez mais, com a vis�o daquela est�tua de m�rmore, bel�ssima, no jardim da casa de leil�es, � espera de um novo dono.


By Bruno Monnerat Alves

The Woman

Hand in the chin, she stops, musing.

Greek beauty, dressed with diligence, tall, thin. Wavy hair, wore in a careless ponytail.

As I walk by in the morning, I see her in the garden, at the entrance of the majestic house. Her looks call my attention. I almost go back to see her once more.

I keep on going my way, though�(I can�t be late!)

Wise, she ponders and meditates.

My memory captures the ros� harmony: skin and clothes. My brain registers the still, unexpected, in luminous winter morning.

The cars go fast by Cosme Velho neighborhood... Impatient, at the red sign, they stop even they dislike it.

Not even this morning frisson bothers her, imperturbable audience that she is.

Finally, I arrive at my English course. During the class, I can�t forget about the sight of that woman. Her classical image had impregnated me. I catch myself wandering who would have made her magnificent outfit...

And the fabric, muslin? Or maybe some sort of satin, for the sensual effect of the draperies, protecting her body from the curious passersby as if she was a vestal...

On my way back, I find her still in the same position. Nothing disturbs her: impassible, she keeps musing, with a lost look in her eyes� (what/whom would she think about???)

I stop, thrilled, one more time, with the sight of that beautiful marble statue, in the garden of Leone�s auction house, waiting for a new owner...


Prezada Ang�lica,

Ap�s lermos sua cr�nica, D.Rosa, que � a pessoa que faz as descri��es das nossas pe�as, ficou muito emocionada e resolveu respond�-la tamb�m com um texto, que segue em anexo.

Esperamos que goste e, quando poss�vel, venha nos fazer uma visita.

Abra�os,

LEONE
(Galeria Leone Leil�es de Arte)



A RESPOSTA


ROSAMARIA VERNEY CASTELLO BRANCO


Para a mo�a que passa al�m da grade
e observa meu traje e meu penteado
e fantasia e imagina e cria
respostas sobre mim, minha atitude,
meu sil�ncio, minha origem, meu destino.

Respondo com igual eleg�ncia
de texto e de palavras,
Vou dizer quem sou e de onde venho.

Sou a sabedoria, e filosofo.
V� a meus p�s a coruja, � de Atena
a deusa do Saber, a ave preferida
e os livros: a "Metaf�sica" de Arist�teles.

Criou-me um escultor do Velho Mundo,
buscando na hel�nica beleza
a harmonia que voc� admira.

Certamente as dobras de minha t�nica
seriam de um tecido delicado fiado com l�,
e o meu penteado inspirado nas que habitam o Olimpo.

Quanto a atitude de sil�ncio e de reflex�o,
� a atitude dos que meditam, buscam
entender o sentido das coisas metaf�sicas,
e fazendo-se perguntas, filosofam.


De cada um que passa al�m da grade
observo tamb�m eu, as rea��es, as emo��es
e as guardo pensando, em meu sil�ncio.

Quanto a voc� n�o pense, que passa
despercebida, vejo que � sens�vel e inteligente
pelo modo como fita minha figura.

Minha imobilidade � aparente,
minha serenidade que te toca
� a vida interior que represento
meditando, buscando, observando.

� essa aura de sabedoria e beleza cl�ssica
que o escultor que me idealizou
traduziu em meu todo,
que fala a voc�, que mobiliza
sua perspic�cia e sensibilidade.

Sugiro que ao seu belo nome Ang�lica
amada de Reinaldo e de Rolando,
acrescente Sofia,
que no idioma de Plat�o e S�crates
significa Sabedoria.

Para onde vou n�o importa, � meu destino,
mas guarde sempre o que minha figura
despertou em voc� e sei que um dia
algu�m olhando-a vai encontrar em sua pessoa
o que v� em mim,
o saber, a serenidade e a harmonia.

Seja feliz!

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13-out-2008