Sou advogado. Viúvo, 65 anos.
Considero-me uma pessoa prática e, talvez, por deformação profissional, cética.
Raramente me permito certos sentimentalismos. Uma passagem da minha vida, entretanto, me comove e intriga até hoje.
Há uns três anos liguei para a casa de um cliente. Quem atendeu, uma mulher, informou que era engano. Agradeci e me preparava para desligar quando, inexplicavelmente, resolvi aguardar que ela o fizesse. Mas ela não desligou. E aí nos peguei rindo com aquela situação insólita! E começamos a conversar sobre banalidades... e nos tornamos amigos.
Durante meses nos falamos, cada vez mais freqüentemente. Para mim, era um prazer ouvir a voz Dela e partilhar suas emoções. Tínhamos tantas afinidades!
Comecei a me descobrir ansioso esperando chegar o horário combinado para nos falarmos... Quanta reunião remarquei para não perder aquele momento especial do dia!
Certa vez fui obrigado, por conta de um processo, a ir a São Paulo por duas semanas. Problemas inesperados surgiram e me demorei mais do que previra.
Ao retornar ao Rio, liguei imediatamente para Ela. Tive a sensação de que estava feliz mas, ao mesmo tempo, magoada com o meu sumiço. Pensei, então, em convidá-la, mais uma vez, para um chá. Poderíamos, finalmente, nos conhecer e conversar calmamente.
Para minha surpresa, Ela aceitou de imediato.
Marcamos, então, o local, horário e descrevemos a roupa com que iríamos (lembro-me, até hoje, do detalhe do vestido azul turquesa, "para combinar com os olhos", ela dissera).
Cheguei antes. Queria poder escolher uma mesa bem situada, onde não fôssemos perturbados. Sentei e aguardei. Pedi uma água para ajudar a relaxar e me pus a exercitar a imaginação... como seria ela? Teria 60 anos, mesmo? Era, realmente, viúva?
Tínhamos marcado às 5 (chá britânico, ela acrescentara). Mas, às cinco e meia, Ela ainda não tinha chegado. Como conheço as mulheres, não me preocupei...
Às seis, estava alarmado...
"Um capuccino, por favor. Estou aguardando uma amiga que não deve tardar. Não, não quero comer nada por enquanto, obrigado".
Às seis e meia, tive a certeza de que Ela não viria.
Pedi a conta, meio constrangido (o garçom me olhava de lado...).
Paguei e fui embora.
Caminhei até minha casa, para que as endorfinas, liberadas, me ajudassem a pensar. Não conseguia entender o motivo daquela atitude... Nos entendíamos tão bem! Ela aceitou, feliz, o convite!
De repente, a suspeita: será que alguém entendeu errado o endereço? O dia? O horário? Já vi acontecer...
Ou será que, ao me ver, não gostou de mim, de imediato? Mas, como? Eu a teria visto! Estava de frente para a porta!
Nenhuma mulher madura, alta, de cabelos curtos, vestido e olhos azuis havia entrado!
O que teria havido? Algum acidente? (me lembrei de Cary Grant, no Empire State, aguardando a namorada, "Tarde demais para esquecer"...).
Os tempos eram outros, felizmente! Entrei em casa e liguei. Ninguém atendeu. Insisti.
Nada. Desisti.
No dia seguinte, antes de ir para o escritório, tornei a telefonar. Uma mensagem gravada informou-me que o número discado se encontrava desativado.
Quedei-me, pensativo e pasmo.
O QUE TERIA ACONTECIDO?
Até hoje, tanto tempo depois, ainda não descobri.
Por vezes, me pego atendendo o telefone, torcendo para ouvir novamente aqueles olhos azuis...
À ESPERA II (outro
final) ou... LA VIE EN ROSE
O inexplicável
sumiço, há tempos, de uma mulher pela qual havia me apaixonado,
transformou minha vidanum imenso vazio.
Decidi, então, reagir e me lançar em novos vôos, sendo a informática
um deles. E foi, justamente, por intermédio desta nova experiência, que
tudo mudou!
Explico:
Numa madrugada insone, em que aqueles momentos de outrora insistiam em me
desestruturar, abro, ao acaso, uma página da Internet, “fissura” de minha filha
adolescente, algo denominado Fotolog. A contemplação de um belo relógio de
parede me faz recordar o existente na
casa de meus velhos pais. Era eu o encarregado de dar corda nele, todo mês...e
com que orgulho cumpria a minha tarefa!
Ao pressentir um texto logo abaixo, me dispus a ler, quem
sabe o sono vinha...(Apesar da minha preferência pelo aconchego de um livro nas
mãos, tento: o título, À Espera, me instigou).
Os olhos perpassam aquelas linhas e a emoção me invade: era
uma história de amor muito parecida com a que eu tinha vivido e que me
destruíra emocionalmente!... narrada por uma mulher! (seria Ela a autora?)
Sôfrego, continuo a beber aquelas palavras, reconhecendo-me,
aos poucos, ali, incontestavelmente!
COMO? Então Ela foi até ao restaurante, conforme havíamos
marcado?
(nos conhecíamos apenas por telefone e, neste dia deveria
ter acontecido o nosso primeiro encontro... ao qual ela faltou, sumindo
completamente depois...)
Ela me viu, se
agradou de mim, mas NÃO entrou? Por quê?
Vertigem!
Ela fez uma descrição diferente de si própria para se
preservar?
(Seria Ela, mesmo?... mas não restava mais dúvida nenhuma!)
“O SIMPLES FATO DE SE SENTIR DESEJADA LHE BASTAVA”...
Quanto medo! Não podia acreditar! As lágrimas me turvaram a
visão, o coração disparou... meu Deus!! (Não consigo, até hoje, definir, com
clareza, meus sentimentos naquele instante!)
Uma idéia fixa, então, se instalou em minha mente:
reencontrá-la! Dizer do caos que sua atitude gerou na minha vida! Do amor
infindo que ainda sinto por ela! Do
sonho roubado!
Mas,
como? Desesperado, mando um e-mail para um amigo que, micreiro veterano , me
aconselha:
Calma! Pra tudo se dá um jeito! No alto desta
página, existe uma palavra: about. Clica em cima e vê, se, por acaso, tem o
e-mail do fotologger. Se tiver, fica fácil!
Volto à página, clico,
lá está: é uma mulher. Seria Ela?...
O coração bate descompassado! Decidido, mando uma mensagem ,
contando toda a minha história, longo texto. Enviar!A sensação que sinto é um misto de alívio e
ansiedade: iria ela responder?
...ela seria ELA?...
O improvável acontece, meia hora depois: mensagem recebida!
Trêmulo, abro: gentil, me informa que a mulher em questão é
sua prima!(!!!)... e mais: por achar que esta>história de amor merece outro final, iria me fornecer o seu novo telefone
!
O pranto, por tanto tempo guardado, liberta-se, enfim!
E é com o papel (onde escrevi o número mágico) apertado entre
as mãos, que adormeço em paz!
FIM DA LONGA ESPERA !
No dia seguinte, tomei coragem e liguei para Ela.
Revelou que a prima havia lhe contado logo cedo o que ocorrera e que se
emocionara muito com aquela inesperada volta ao passado.
Ao perguntar-lhe o porquê de sua atitude, preferiu calar-se.
Sugeri, então, que fôssemos jantar naquele mesmo restaurante, para
conversarmos com calma e, quem sabe, retomar a nossa história do ponto em que
havia sido interrompida. Aceitou.
Comprei-lhe um vaso de azaléias, sua flor predileta.
Cheguei antes... (pura ansiedade!)
Logo depois, vejo uma mulher madura, sedutora, se aproximar!
...era Ela!
Riu sem jeito e enrubesceu! (adoro mulheres que enrubescem...) Sentou-se ao
meu lado e nos olhamos, em silêncio, por longos e embaraçosos minutos... Uma
lágrima insistia em aparecer, mas me contive! (homens não choram!, lembrei-me de
minha mãe...)
Tivemos, então , uma conversa franca, adulta, em que tudo se esclareceu. O
medo de iniciar um novo relacionamento a bloqueara. A criação rígida e o
colégio interno, de freiras, a condicionaram a ser viúva para sempre! (ainda se
tivesse sido mal casada...)
Quando, enfim, só havíamos nós no restaurante, saímos .
Fui levá-la em casa. Para minha surpresa, morava ali perto.
Caminhamos, então, pela praia. A brisa suave do início do verão, o luar, o
barulho das ondas, tudo contribuía para este momento especial.
Ao nos despedirmos, tivemos a certeza de que, desta vez, o medo de amar não
seria mais um empecilho para uma promissora vida a dois.
Continuamos a nos ver diariamente e é sempre um enorme prazer conviver com
Ela.
Mês que vem é seu aniversário.
Já comprei o presente:
duas passagens para Paris, só de ida!
...a volta, quem sabe quando?
Ainda bem que minha história
de amor teve um final feliz!
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