Olho o peixe. Impotente.
A postura vertical e a heróica resistência me comovem. Me angustiam.
Está assim há três dias. E resiste...
A cada vez que chego para alimentá-lo, rezo para que já tenha morrido. Que seu sofrimento tenha chegado ao fim...
Mas, não. Lá está ele, silencioso, a me fitar. E resiste. Cada vez menos, mas resiste...
Consegue se alimentar com dificuldade. Equilibrar-se, não mais... mas ainda resiste...
Não mais corridas elegantes pelo imenso aquário, só dele. Não mais esconderijos nas plantas venenosas, onde só ele, peixe-palhaço, pode penetrar. Não mais.
Nunca mais.
Por que motivo me entristeço tanto com a agonia deste peixe? Tantos tivemos, tantos vieram, tantos se foram...
Mas este é diferente.
Será pelo tempo que está conosco?
Será pela sua garra?
Não sei.
Na imensidão de um universo como o nosso, há seres que se destacam. Dotados de luz própria, registram, de alguma forma, a sua passagem.
Profundas e definitivas marcas!
Como o peixe.
Como ESTE peixe, morrendo aos poucos e, paradoxalmente, renascendo, intenso e exuberante, na medida em que se faz vivo dentro de mim!
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