O PEIXE

Maria Ang�lica Monnerat Alves

Olho o peixe. Impotente.

A postura vertical e a her�ica resist�ncia me comovem. Me angustiam.

Est� assim h� tr�s dias. E resiste...

A cada vez que chego para aliment�-lo, rezo para que j� tenha morrido. Que seu sofrimento tenha chegado ao fim...

Mas, n�o. L� est� ele, silencioso, a me fitar. E resiste. Cada vez menos, mas resiste...

Consegue se alimentar com dificuldade. Equilibrar-se, n�o mais... mas ainda resiste...

N�o mais corridas elegantes pelo imenso aqu�rio, s� dele. N�o mais esconderijos nas plantas venenosas, onde s� ele, peixe-palha�o, pode penetrar. N�o mais.
Nunca mais.

Por que motivo me entriste�o tanto com a agonia deste peixe? Tantos tivemos, tantos vieram, tantos se foram...

Mas este � diferente.
Ser� pelo tempo que est� conosco?
Ser� pela sua garra?
N�o sei.

Na imensid�o de um universo como o nosso, h� seres que se destacam. Dotados de luz pr�pria, registram, de alguma forma, a sua passagem. Profundas e definitivas marcas!

Como o peixe.

Como ESTE peixe, morrendo aos poucos e, paradoxalmente, renascendo, intenso e exuberante, na medida em que se faz vivo dentro de mim!