Catete - Esse � o meu bairro

Jorge Lasperg

Que bairro � esse, que, mesmo vizinho de tantos famosos como a aristocr�tica Laranjeiras, o monumental Aterro do Flamengo, a buc�lica Santa Teresa e a charmosa Gl�ria, consegue ter brilho pr�prio? Como definir esse pedacinho de terra com umas poucas ruas que, mesmo espremido entre tantos �cones da paisagem urbana carioca, preserva sua identidade intacta? Que esp�cie de magia h� nesse lugar, dividido entre o frenesi comercial do Centro da cidade e a voca��o tur�stica da Zona Sul? Afinal, o que � o Catete?

O Catete � o esp�rito urbano presente no andar apressado de quem sai pela manh� para o trabalho, semblantes contidos enfiados em ternos e gravatas. � a alegre algazarra dos estudantes do Col�gio Zaccaria, refer�ncia do ensino m�dio na cidade. � o sorriso simp�tico da florista da rua Andrade Pertence, uma senhorinha mi�da, portuguesa de olhinhos apertados, exibindo feliz suas flores expostas na cal�ada.

O Catete � a express�o musical do jazz que emana das lojas de discos usados, convidando a entrar os amantes da boa m�sica. � o batuque da roda de samba em frente ao com�rcio popular a misturar-se com o sincopado do tango da academia de dan�as que funciona em um de seus antigos sobrados. � a seresta das noites de sexta-feira no adro do Museu da Rep�blica, cantando sucessos inesquec�veis de Orlando Silva e do Chico Viola.

O Catete � o burburinho febril das escadarias do metr�, engolindo e regurgitando gente quase que sem parar. � o tr�nsito intenso em suas ruas, com as v�rias linhas de �nibus que circulam pelo bairro aumentando em alguns decib�is o j� elevado n�vel de ru�do da regi�o. � a silenciosa majestade de cada �rvore centen�ria dos jardins do Pal�cio, pequeno bosque de tranq�ilidade interiorana incrustado em meio ao caos urbano, local preferido pelas senhoras em suas caminhadas matinais e pelas jovens m�es que empurram, solenes, seus carrinhos de beb�.

O Catete � o discreto requinte do ajantarado das tardes de s�bado no bistr� do Pal�cio, antes da sess�o de cinema no Esta��o Museu da Rep�blica. � o chope gelado acompanhado das generosas por��es de petiscos do bar Carlitos, com seus barris de chope espalhados pela cal�ada e improvisados em mesinhas. � o churrasquinho de gato nas carrocinhas dos ambulantes que fazem ponto na esquina da rua Silveira Martins, parada obrigat�ria para quem chega do trabalho � noitinha.

O Catete � o testemunho vivo da mem�ria nacional nas exposi��es permanentes do Museu do Pal�cio, cen�rio do suic�dio de Get�lio Vargas, trag�dia maior da hist�ria recente do Brasil. � a cultura libert�ria dos seus sebos liter�rios, com seus freq�entadores vasculhando as prateleiras, quase sempre as mesmas pessoas, quase nunca compram nada. � a efervesc�ncia de seu com�rcio de rua, onde lojas disputam fregueses com os camel�s em suas cal�adas estreitas.

Enfim, tudo isso � o Catete, o bairro que escolhi para viver e que me adotou como filho leg�timo. Um raro exemplar do microcosmo urbano, de interessant�ssima diversidade social, com tudo que uma cidade grande e cosmopolita como o Rio de Janeiro pode oferecer aos seus habitantes em todos os aspectos. Despertando um misto de orgulho e nostalgia em todos os seus moradores, o Catete �, com justi�a, uma das mais perfeitas manifesta��es deste esp�rito greg�rio e alegre que n�s, orgulhosamente, chamamos de ALMA CARIOCA.

Jorge Lasperg � Analista de Sistemas e morador do Catete

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06-jun-2008