Alma Carioca

Navegando (V)

J.Carino

Cassinos e jogadores atraem, fascinam. Têm sido tema tanto de livros geniais, como “O jogador”, de Dostoievski, quanto de excelentes, medíocres ou péssimos filmes. O glamour, a ânsia de ganhar, o jogo como perdição e o próprio ambiente dos cassinos exercem uma atração incrível. Haja vista, por exemplo, os turistas que o ano inteiro entopem Las Vegas – aquele falso oásis de questionável felicidade, cheio de miragens em que as moedas de ouro tilintam diante de jogadores que apostam fortunas ou caraminguás.

Pois bem, a muitos atrai também o cassino que existe no navio.

Embora modestíssimo, na comparação com seus congêneres em terra firme, o cassino à bordo também tem lá seu charme e quase uma aura de mistério, criada, imagino, por ficar ali, à mão, no mesmo corredor por onde se vai a dois dos restaurantes e bares. Todos – velhos, jovens, crianças – transitam diante daquelas portas nas quais cartazes bem visíveis avisam que aos menores é proibido o jogo, ou anunciando que o cassino só funciona com o navio em movimento.Há máquina caça-níqueis posicionadas estrategicamente no corredor que leva ao cassino. Vistosas, construídas em plástico negro, vidro e metal, exibem seu display colorido, onde piscam luzes e de onde saem sons, atraindo a atenção de todos, mesmo os não ligados em jogos, como é o meu caso.

Essas máquinas prometem aos aficcionados o momento tão esperado, quando uma combinação mágica se estabelece, as luzes piscam nervosamente e, finalmente, sobrevém o barulho das centenas de fichas caindo num reservatório de metal. Isso tudo indica que um jogador ou jogadora sortudos conseguiram acertar as combinações e terão direito a um grande prêmio.

Não vi no navio um momento desses. Mas ouvi dizer que uma senhora ganhara o equivalente a uns 1200 dólares. Foi o bastante para que as conversas no corredor e à entrada do cassino girassem em torno do assunto, dizendo-se, por exemplo, que a premiada tivera sua viagem paga pela infernal maquininha.

No interior do cassino existe uma superfície para onde convergem todos os olhares: o famoso “pano verde”.

Acerquei-me da mesa de “Black Jack”. Uma crupier, jovem pequenina, moreninha, mostrava sua incrível habilidade, com as cartas dançando por entre seus dedos longos de unhas aparadas. E demonstrava também agilidade com aquela espátula capaz de virar e desvirar com extrema rapidez as cartas. Ouros, copas, paus e espadas exibiam-se contra o fundo verde escuro, como símbolos de uma riqueza acessível, imediata e praticamente certa, pelo menos na esperança dos jogadores.

Concentrei-me nos rostos dos que jogavam. Tiques nervosos, tamborilar de dedos, mãos trêmulas denunciavam o nervosismo, a expectativa, a angústia e a decepção. Os raros sorrisos mais pareciam esgares correspondentes a frustrações mal disfarçadas.

Ao lado, outra mesa atraía a atenção, aliás de longe despertada pelo tec-tec-tec-tec-tec característico da bolinha se chocando contra as reentrâncias da roda mágica chamada roleta. Também aí mais nervosismo, expectativa, olhos atentos, mãos e corações inquietos.

Vendo o movimento perfeito, regular e preciso da roleta, veio-me a indagação: como é que pode acontecer isso se o navio está se movendo e, algumas vezes, embora de forma bem suave, a gente sente bem os balanços? Haverá um giroscópio para a roleta? Não perguntei e acabei ficando sem saber.

Uma figura um tanto estranha – mulher magérrima, com a boa forma enfiada num vestido justíssimo e o rosto de maçãs salientes, onde era ressaltada uma boca em batom vermelhão em meio a muita maquiagem – cruzava a todo o momento o salão, parando nas mesas de jogo e nas máquinas caça-níqueis. Agia como uma espécie de anjo da guarda dos jogadores, explicando a forma de jogar e esclarecendo dúvidas.

Fiquei sabendo depois que essa mulher é russa. Pus-me a pensar como é que ela teria deixado as estepes cobertas de neve para vir até aqui, neste cruzeiro em águas tropicais. E deixei minha imaginação literária voar, inventando histórias rocambolescas para essa estranha figura, atribuindo-lhe, coerentemente, uma frieza de pedra num coração gelado e necessário para garantir o lucro dessa casa flutuante de jogo.

Num dos cantos do pequeno cassino, dois homens metidos em ternos impecáveis traíam sua condição de seguranças, mostrada nos olhos atentos, constantemente voltando-se para a porta e esquadrinhando o salão de jogo.

Bem, seguranças para quê, se estamos todos aqui, confinados neste navegante hotel de luxo? Porém, se não houvesse isso, não se completaria o clima misterioso que esperamos cercar todos os cassinos.

Noutro canto, estrategicamente situado ao lado da porta, o guichê onde as fichas são compradas e os prêmios pagos. Passei por perto, pensei, pensei, pensei e cheguei à sensata conclusão de que preferia manter-me ao largo desse lugar de tentação. Mas com isso sei que renunciei à emoção, ao gosto pelo perigo, às possibilidades de saborear a vitória... Paciência.

Fui saindo, enquanto as cartas continuavam sendo manipuladas com destreza sobre o pano verde, as bolinhas da roleta seguiam produzindo seu ruído característico e, no corredor, as máquinas caça-níqueis seguiam com suas cadeiras completamente tomadas, diante de ávidos apertadores de botões.

Peço-lhes, caros leitores, que não se deixem influenciar por este cético, que não crê na sorte nem no azar. Vale a pena visitar o cassino do navio.

E, quem sabe, arriscar uma apostazinha.

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