Alma Carioca

Navegando (III)

J.Carino

Um hotel com mais de 1400 hóspedes é difícil de administrar. Porém, como fazer isso com uma dificuldade adicional: o hotel... navega.

Sempre imaginei como funcionaria a coisa. E, no entanto, funciona bem.

A tripulação do transatlântico em que viajei é composta de cerca de 500 pessoas, recrutadas nos mais diferentes países. Já aqui, essa Babel apresenta um problema de comunicação. Dá pra perceber que nem todos falam mais de uma língua; percebe-se, no entanto, que os monoglotas se viram bem, usando a ancestral linguagem de sinais, a riqueza comunicativa possível com a mobilidade do corpo.

Os tripulantes, exceto quando trabalham no restaurante em momentos nos quais o traje a rigor é exigido, vestem camisas coloridas, daquelas apresentadas aos turistas nos Mares do Sul. Mas as estampas variam de cor, segundo a hierarquização que divide  chefes, supervisores e subordinados. Além disso, de vez em quando, os tripulantes responsáveis pelas diversas áreas – restaurantes, bares, o serviço de hotel, máquinas, etc. – dão  uma circulada com seus uniformes brancos.

Sempre vemos nos hotéis, mesmo nos de maior luxo, os empregados circulando nas áreas nobres. Uma trouxa de roupa sendo carregada pelos corredores nunca combina com os ambientes sofisticados. No navio, jamais vi isso acontecer, e observei até descobrir que os empregados circulam pelas entranhas do navio num caminho só deles. Em quase todos os corredores lá está uma porta com a inscrição “Crew only”, e outras desse tipo. Por ali somem e aparecem tripulantes e tudo o que não é para ser mostrado. E as portas são estrategicamente posicionadas de modo a facilitar o trabalho de limpeza, de arrumação, de circulação de mercadorias, mobiliário e tudo o mais.

Uma logística admirável é exigida para que tudo funcione, para que um imenso transatlântico carregue seus passageiros-hóspedes, oferecendo a eles (com pagamento em dólar, claro) tudo a que têm direito: casa, comida, roupa lavada e diversão.

Certo dia, num início de manhã luminosa, após a atracação, fiquei observando. A simples colocação de uma escada e de uma rampa de descida mostrou cuidados e complexidade. Depois de descidas por roldanas, e apoiadas no cais, a rampa e a plataforma receberam os cuidados de uns seis tripulantes, empenhados em fixar suportes e amarrar cordinhas à guisa de corrimãos. Fixa daqui, amarra dali, a operação só foi terminada quando se chegou à conclusão de que não haveria perigo para quem subisse ou descesse. Porém, ainda assim, ao final, um dos oficiais percorreu degrau por degrau da escada e toda a extensão da rampa, pisando com força aqui e acolá, antes de liberar a passagem.

Nos restaurantes, há uma obsessão pela arrumação. Se você bobear, fica sem o prato em meio à refeição. Pudera, são milhares de bocas para alimentar em tempo certo. A estratégia prevê a escolha prévia, feita antes de embarcar, entre dois horários. Isto, por sua vez, é sincronizado com o horário dos shows apresentados toda noite no grande teatro: o mesmo show é repetido, para poder ser assistido por quem estava jantando. As mesas dos restaurantes servem, pois, a dois grupos de comilões. Bem bolado: eis uma conciliação entre o pão e o circo!

Mariluz. Este nome romântico é o da nossa camareira, uma espanhola simpaticíssima, também obcecada com a limpeza e arrumação. Por isso, nossa cabine vivia tinindo. E, num dos dias, ela mostrou sua arte: encontramos sobre a cama nossas roupas de dormir, arrumadinhas, formando duas figuras, lado a lado!

Imaginem: a reposição da comida, no restaurante self-service da piscina e nos cafés da manhã; as centenas e centenas de cadeiras na área da piscina, logo arrumadas, depois de largadas de qualquer modo pelos passageiros; o serviço impecável nos cinco bares; a limpeza constante de todas as dependências... Um batalhão de tripulantes, numa verdadeira operação de guerra a serviço do lazer.

Uma pergunta que fazem: como são controladas as saídas e o retorno ao navio? Ao embarcar, cada passageiro recebe um cartão magnético. Esse cartão tem mil e uma utilidades, desde abrir a porta da cabine até servir de “moeda eletrônica”. No navio se paga com duas moedas: em dólar ou em cartão de crédito. Ao embarcar, cada passageiro, se optar pelo cartão de crédito, já é obrigado a bloquer uma dada quantia, da qual vão sendo deduzidas todas as despesas, para um acerto, ao final da viagem, do que ultrapassar o valor bloqueado.

Um exemplo: você já está meio de pilequinho, curtindo a música no bar e olhando o movimento das ondas, com reflexos de luar. Querendo mais um drink, basta pedir a uma das bonitas garçonetes – belezas espanholas, filipinas, porto-riquenhas, uruguaias, argentinas, chilenas, paraguaias... e até brasileiras – e sua bebida será paga com esse cartão de bordo. Você só terá que tentar firmar a mão de bebum na hora da assinatura da nota...

Sobre as saídas e entradas no navio, eis a resposta: elas são controladas no acesso ou saída utilizando-se esse cartão.

Como disse, a coisa funciona bem. A gente pode relaxar, esquecer os problemas, como se a vida se resumisse a esse navegar suave, brilhos de luar e sóis nascentes e poentes.

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