O MORRO DO CASTELO

1567 - 1922

A hist�ria do Morro do Castelo come�a no s�culo 16, quando a cidade se mudou do Morro Cara de C�o. A mudan�a ocorreu em 1567, dois anos depois da sua funda��o, quando os 120 portugueses, comandados por Mem de S�, derrotaram os franceses, comandados por Nicolau Durand de Villegaignon.

A mudan�a foi necess�ria porque o Cara de C�o era pequeno para abrigar tanta gente. O Morro do Castelo foi escolhido por raz�es de seguran�a. Os portugueses tinham o costume de construir vilarejos em pontos elevados e o Morro do Castelo era uma das quatro colinas existentes no Centro do Rio. Al�m do Castelo, havia os morros de Santo Ant�nio, S�o Bento e da Concei��o. Do Castelo tinha-se uma vis�o privilegiada de boa parte da Ba�a de Guanabara, o que facilitava a defesa. Al�m disso, era cercado por lagoas e manguezais, que dificultavam um ataque. Os �ndios Tamoios, pouco d�ceis e inimigos naturais dos portugueses, tinham medo das colinas, pois as associavam a coisas demon�acas. Finalmente, a inclina��o do morro favorecia o escoamento dos detritos. Naquela �poca, como atualmente em algumas favelas, jogava-se lixo na rua e a chuva tratava de lev�-lo encosta abaixo.

Assim nasceu a cidade, com cerca de 600 pessoas, entre elas os fundadores que vieram com Est�cio e Mem de S�, jesu�tas, �ndios catequizados, alguns franceses e umas poucas mulheres. Esses pioneiros ocupavam os 184 mil metros quadrados da colina, com limites nas atuais Rua S�o Jos�, Santa Luzia, M�xico e Largo da Miseric�rdia.

A ORIGEM DO NOME "CASTELO"

De in�cio, logo no primeiro ano de ocupa��o, o morro ganhou suas primeiras constru��es. Em 1567 foi erguido o Forte de S�o Janu�rio, rebatizado mais tarde de S�o Sebasti�o.  Ficava na parte posterior do morro e foi feito, como as demais constru��es, de pedra e �leo de baleia. As paredes internas tinham um metro de espessura e sua apar�ncia era a de um castelo, da� o nome do lugar. Meses antes o Morro do Castelo chegou a ser chamado de "Morro do Descan�o".

Em seguida foi constru�da a Igreja de S�o Sebasti�o, o primeiro templo do Rio, que se assemelhava a uma fortaleza. Tinha duas torres sineiras, usadas na vigil�ncia da costa. 

No Morro do Castelo foram constru�dos o primeiro sobrado da cidade, a Casa de C�mara e a Cadeia. A Igreja e o Col�gio dos Jesu�tas exerceram intensa atividade no Castelo at� a expuls�o dos padres desta Ordem pelo Marqu�s de Pombal, em 1759. Com a sa�da dos religiosos o col�gio virou Pal�cio S�o Sebasti�o, depois hospital militar e, em 1877, hospital infantil S�o Zacarias.

As dificuldades do dia-a-dia n�o compensavam a seguran�a do isolamento. Assim, a nobreza carioca do s�culo 16 desceu a ladeira, a Ladeira da Miseric�rdia, que era o �nico acesso ao Morro no in�cio da sua ocupa��o. Da Rua da Miseric�rdia, a mais antiga do Rio, sobrou apenas uma via sem sa�da, com 40 metros e cal�amento p�-de-moleque do s�culo 17, no Largo da Miseric�rdia, que poucos cariocas reverenciam em meio ao corre-corre e a agita��o do Centro.

Foi pela Ladeira da Miseric�rdia que a elite desceu os 64 metros do Morro do Castelo e seguiu em dire��o � v�rzea, a partir de 1570. Apenas o pessoal menos favorecido, principalmente pescadores, permaneceu no alto do morro, pois n�o foi contemplado com a distribui��o de sesmarias, terras doadas pelo governador-geral, em nome da Coroa Portuguesa.

Com a mudan�a, veio a decad�ncia e o local ficou marginalizado, evitado pelos cariocas. Com as obras que mudaram o centro da cidade no in�cio do s�culo passado, muitas fam�lias desalojadas encontraram abrigo no Morro do Castelo. Mas isso s� duraria at� 1922, quando o Prefeito do Distrito Federal, engenheiro Carlos Sampaio, decretou o fim do morro. Foram muitas as justificativas, entre elas a falta de espa�o para abrigar a exposi��o comemorativa do centen�rio da Independ�ncia. Diziam, tamb�m, que o Morro do Castelo prejudicava a ventila��o da �rea central da cidade. Assim, com jatos d'�gua, motores el�tricos e m�quinas a vapor, acabaram com o ber�o da cidade.

Mesmo tendo o Rio um milh�o e duzentos mil habitantes coube a um paulista, Monteiro Lobato, reagir contra a obra. Foram demolidos 300 im�veis e retirados 66 mil metros c�bicos de terra. A popula��o foi removida para os sub�rbios e os principais objetos de valor, como o marco inaugural da cidade, pinturas e esculturas do s�culo 17, transferidos para v�rios pontos da cidade. No Col�gio Santo In�cio est�o as imagens do Cristo Crucificado, de Jo�o Evangelista e da Virgem Maria, al�m da Porta Principal da antiga Igreja dos Jesu�tas. Na Igreja dos Capuchinhos est�o o Marco Inaugural e t�mulo de Est�cio de S�. 

A terra retirada do Castelo foi usada para aterrar parte da Urca, Lagoa Rodrigo de Freitas, Jardim Bot�nico, �rea do J�quei Clube, e muitas �reas da ba�a de Guanabara. Vale lembrar que a Rua Santa Luzia, onde est�o a Igreja de Santa Luzia e a Santa Casa de Miseric�rdia, ficava junto ao mar.

Fonte: Jornal do Brasil - Revista de Domingo - 27/2/1994 - Mat�ria de S�rgio Garcia

Informa��es sobre a maquete do Morro do Castelo:

Esta �, segundo historiadores, a apar�ncia da cidade no s�culo 16. Podemos ver o forte de S�o Sebasti�o, conhecido como "castelo da cidade", e que deu o nome ao morro (a grande constru��o retangular com um p�tio central e extremos pontudos onde ficavam as guaritas). O grande complexo, com um pr�dio comprido, quase 200 metros de extens�o, com muitas janelas, era o conjunto dos jesu�tas, com escola, hosp�cio e igreja. A outra igreja era a S�. Na sua frente o fortim chamado de Baluarte de S�o Janu�rio.

Na v�rzea temos, na ponta do Calabou�o, o forte de S�o Tiago, e os primeiros pr�dios da Santa Casa, o qual englobava a igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, a �nica de p� at� hoje.

O tecido urbano j� come�a a se espraiar. Temos, como ruas tra�adas, as seguintes tendo como ponto inicial o largo no topo do morro:

� direita da foto temos a ladeira do Po�o do Porteiro ou do Semin�rio, saindo do lado da S� e se dirigindo a atual Cinel�ndia. Terminava mais ou menos onde hoje � a Biblioteca Nacional. � esquerda temos a ladeira da Miseric�rdia, da qual ainda sobra um peda�o junto � Santa Casa. Dirigindo-se para baixo da foto temos a ladeira do Castelo, que j� na v�rzea se conecta com a rua S�o Jos�, e rua da Miseric�rdia atrav�s do beco do Cotovelo. A rua da Miseric�rdia come�ava aos p�s da ladeira do mesmo nome e iria se conectar mais a frente com a rua Direita, atual Primeiro de Mar�o.

As praias vistas aqui s�o a de Santa Luzia, onde hoje � a rua Santa Luzia e a do Boqueir�o. Do outro lado do morro temos as praias da Pia�ava, bem junto � ponta do Calabou�o e, como continua��o dela, a praia de D.Manoel, onde hoje � a rua D.Manuel.

A cidade n�o devia ter, nessa �poca, pouco mais de centenas de pessoas. Como pode se ver, havia pouqu�ssimas resid�ncias, sendo quase todos os pr�dios aqui mostrados, sacros, p�blicos ou b�licos.

Essa maquete pode ser vista no Museu da Cidade, na G�vea.

 

Fonte: Andre Decourt