1. AI DE TI, Copacabana, porque eu j� fiz o sinal bem claro de que � chegada a v�spera de teu dia, e tu
n�o viste; por�m minha voz te abalar� at� as entranhas.
2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa
de mentiras; e deste risadas �brias e v�s no seio da noite.
3. J� movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu n�o
viste este sinal; est�s perdida e cega no meio de tuas iniq�idades e de tua mal�cia.
4. Sem Leme, quem te governar�? Foste in�qua perante o oceano, e o oceano mandar� sobre ti a multid�o de
suas ondas.
5. Grandes s�o teus edif�cios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar;
mas eles se abater�o.
6. E os escuros peixes nadar�o nas tuas ruas e a vasa f�tida das mar�s cobrir� tua face; e o setentri�o
lan�ar� as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em p�nico, at� morder a aba
de teus morros; e todas as muralhas ruir�o.
7. E os polvos habitar�o os teus por�es e as negras jamantas as tuas lojas de decora��es; e os meros se
entocar�o em tuas galerias, desde Menescal at� Alaska.
8. Ent�o quem especular� sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade n�o haver� terreno algum.
9. Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas c�maras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar
do Senhor, e n�o obedecem � lei do ver�o.
10. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois n�o ter�o tanta pressa quando virem
pela frente a hora da prova��o.
11. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo �leos odor�feros para tostar a tez, e teus
mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupisc�ncia.
12. Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque j� se cumpriram vossos dias, e eu
vos quebrantarei.
13. Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estar�o nos po�os de teus elevadores, e os
meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogar�o tarrafas no Canal do Cantagalo; ou
lan�ar�o suas linhas dos altos do Babil�nia.
14. E os pequenos peixes que habitam os aqu�rios de vidro ser�o libertados para todo o n�mero de suas
gera��es.
15. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanj� no meio da
noite? Acaso eu n�o conhe�o a multid�o de vossos pecados?
16. Antes de te perder eu agravarei s tua dem�ncia � ai de ti, Copacabana! Os gentios de teus morros
descer�o uivando sobre ti, e os canh�es de teu pr�prio Forte se voltar�o contra teu corpo, e troar�o;
mas a �gua salgada levar� mil�nios para lavar os teus pecados de um s� ver�o.
17. E tu, Oscar, filho de Ornstein, ouve a minha ordem: reserva para Iemanj� os mais espa�osos aposentos
de teu pal�cio, porque ali, entre algas, ela habitar�.
18. E no Petit Club os siris comer�o cabe�as de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-r�, tocar�
piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas
colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas.
19. Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; j� se incendiou o Vogue,
e n�o viste o sinal, e j� mandei tragar as areias do Leme e ainda n�o v�s o sinal. Pois o fogo e a �gua
te consumir�o.
20. A rapina de teus mercadores e a liba��o de teus perdidos; e a ostenta��o da hetaira do Posto Cinco,
em cujos diamantes se coagularam as l�grimas de mil meninas miser�veis � tudo passar�.
21. Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos ca��es passar� ao lado de tuas antenas de televis�o;
por�m muitos peixes morrer�o por se banharem no u�sque falsificado de teus bares.
22. Pinta-te qual mulher p�blica e coloca todas as tuas j�ias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta
a tua �ltima can��o pecaminosa, pois em verdade � tarde para a prece; e que estreme�a o teu corpo fino
e cheio de m�culas, desde o Edif�cio Olinda at� a sede dos Marimb�s porque eis que sobre ele vai a minha
f�ria, e o destruir�. Canta a tua �ltima can��o, Copacabana!
Rio, janeiro, 1958
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